Agências têm 30 dias para remover TikTok de dispositivos governamentais, diz Casa Branca

Popular plataforma de vídeos chinesa continua recebendo crescente escrutínio devido a preocupações com a segurança cibernética

Após anos de preocupação dos governos Trump e Biden quanto à suposta influência de Beijing sobre a empresa chinesa que desenvolveu o TikTok, a Casa Branca estabeleceu na segunda-feira (27) um prazo de 30 dias para as agências federais removerem o aplicativo de todos seus dispositivos e sistemas. As informações são da rede CNN.

A diretiva vem na sequência do banimento, votado pelo Congresso em dezembro, da popular plataforma de vídeos em dispositivos do governo federal. O app desenvolvido pela ByteDance gera temor nos EUA de que funcionários do regime de Xi Jinping possam realizar coleta excessiva de dados de usuários americanos pela perspectiva da lei chinesa, que obrigaria a empresa a fornecer informações.

O Escritório de Administração e Orçamento, por meio de sua diretora, Shalanda Young, também emitiu uma orientação para que, dentro de 90 dias, as agências deverão incluir nos contratos que o TikTok não poderá ser usado em dispositivos e que quaisquer contratos que exijam o uso do aplicativo deverão ser cancelados.

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TikTok: lei chinesa coloca o aplicativo a serviço de Beijing (Foto: Solen Feyissa/Flickr)

Segundo o diretor federal de Segurança da Informação, Chris DeRusha, a medida “faz parte do compromisso contínuo do governo em proteger nossa infraestrutura digital e proteger a segurança e a privacidade do povo americano”. A ação não impacta nos mais de cem milhões de americanos usuários do TikTok em dispositivos privados ou de empresas.

Muitas agências governamentais, incluindo a Casa Branca, o Departamento de Defesa, o Departamento de Segurança Interna e o Departamento de Estado, baniram o TikTok de dispositivos governamentais antes mesmo da votação. E diversos Estados norte-americanos também baniram a plataforma em dispositivos do setor público.

Brooke Oberwetter, porta-voz do TikTok, classificou a proibição como um “teatro político”.

“A proibição do TikTok em dispositivos federais foi aprovada em dezembro sem qualquer deliberação. E, infelizmente, essa abordagem serviu de modelo para outros governos mundiais”, disse Oberwetter em comunicado. “Esperamos que, quando se trata de abordar questões de segurança nacional sobre o TikTok além dos dispositivos do governo, o Congresso explorará soluções que não terão o efeito de censurar as vozes de milhões de americanos.”

ByteDance tem rechaçado repetidamente as preocupações de segurança, argumentando que são “em grande parte alimentadas por informações erradas sobre nossa empresa”.

O CEO da TikTok, Shou Zi Chew, deve testemunhar perante o Comitê de Energia e Comércio da Câmara em março sobre o relacionamento da plataforma com o Partido Comunista Chinês (PCC). Na audiência, ele irá falar sobre as práticas de privacidade e segurança de dados do consumidor e também a respeito do impacto do aplicativo nas crianças, conforme anunciou o comitê em janeiro. 

Coleta excessiva de dados

Um estudo divulgado em julho deste ano pela Internet 2.0, empresa australiana especializada em cibersegurança, reforçou a desconfiança global em torno do TikTok. De acordo com a análise, o aplicativo chinês é “excessivamente intrusivo” e realiza uma “excessiva” coleta de dados dos usuários.

Internet 2.0 decifrou o código-fonte e identificou como uma série de dados está sendo direcionada sem que o usuário perceba. A análise técnica apontou que o aplicativo verifica a localização do dispositivo pelo menos uma vez por hora e tem acesso contínuo ao calendário e aos contatos. Com isso, informações confidenciais estariam sendo enviadas de volta à China.

“O aplicativo móvel TikTok não prioriza a privacidade”, afirmou o relatório. “Permissões e coleta de informações do dispositivo são excessivamente intrusivas e não são necessárias para o funcionamento do aplicativo”.

Conhecido como Douyin em seu país natal, o TikTok também consegue verificar tanto o ID do dispositivo em que está hospedado quanto o disco rígido, o que permite que ele monitore todos os outros aplicativos instalados no aparelho em que se hospeda, dizem os especialistas australianos.

“Se o usuário negar o acesso, ele continua solicitando até que o usuário permita”, disse o relatório.

Outra questão destacada pela análise técnica é o fato de o servidor do TikTok na China ser administrado por uma das gigantes locais nos serviços de nuvem e segurança cibernética

“Também é digno de nota que o TikTok IOS 25.1.1 (a versão que roda em iPhones) tem uma conexão de servidor com a China continental, que é administrada por uma das cem maiores empresas chinesas de segurança cibernética e dados, a Guizhou Baishan Cloud Technology“, informou o relatório.

A descoberta contraria as alegações do TikTok, que diz armazenar os dados do usuário nos EUA e em Singapura. Além disso, o relatório diz ter encontrado evidências de “muitos subdomínios no aplicativo iOS espalhados pelo mundo”, incluindo Baishan, cidade chinesa na província de Jilin.

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