Armas pesadas roubadas de bases dos EUA são usadas por extremistas, aponta investigação

Documentos indicam que equipamento militar de centenas de milhares de dólares foi levado por quadrilhas de criminosos e milícias

Armas e outros equipamentos militares foram roubados de bases usadas pelas Forças Armadas dos EUA no Iraque e na Síria entre os anos de 2020 e 2022, gerando um prejuízo de centenas de milhões de dólares e ajudando a equipar organizações como o Estado Islâmico (EI). Tais informações constam de documentos ligados a processos criminais em andamento que foram analisados pelo site The Intercept.

As investigações militares foram iniciadas neste ano, após a constatação de que “múltiplas armas e equipamentos sensíveis”, como drones e sistemas de mísseis guiados, desapareceram de instalações ocupadas pelos militares norte-americanos no Iraque. Situação semelhante ocorreu na Síria e foi igualmente registrada pelo The Intercept no começo de 2023.

Um dos casos, de 13 drones comerciais levados de uma base em Ebril, no Iraque, gerou um prejuízo de US$ 162,5 mil dólares. Em outro episódio, unidades de mira e lançadores de mísseis teleguiados Javelin, que os soldados disparam com a arma apoiada no ombro, foram roubados em Bagdá, perda avaliada em quase US$ 480 mil.

Forças Armadas norte-americanas em ação na Síria, novembro de 2019 (Foto: The National Guard/Flickr)

A reportagem atesta que ao menos quatro roubos relevantes ocorreram entre 2020 e 2022, três deles no Iraque e um na Síria, além de um episódio em que armas e equipamentos foram perdidos durante o transporte.

Mas o problema parece ser bem anterior a esse período, com a possibilidade de que outros incidentes semelhantes tenham ocorrido. Nem mesmo o Pentágono, Departamento de Defesa dos EUA, sabe precisar a extensão do problema.

O tamanho do prejuízo, no entanto, pode ser projetado com base em uma auditoria realizada em 2020. Ela aponta que a Operação Inherent Resolve, uma coalizão liderada pelos EUA para derrotar o EI, deixou de registrar US$ 715,8 milhões em armas que seriam entregues a grupos rebeldes locais apoiados por Washington na luta contra a organização terrorista.

De acordo com um documento ligado à investigação, não há qualquer indício de que pessoal ligado às Forças Armadas norte-americanas tenha relação com os crimes, que foram possivelmente cometidos por milícias armadas ou simplesmente quadrilhas de criminosos que atuam nos dois países.

Além do prejuízo financeiro, outro problema gerado pelos roubos é que eles acabam por fortalecer justamente os grupos hostis que os EUA tentam derrotar. Exemplo disso foi registrado em 2015, quando a ONG Anistia Internacional denunciou que o EI vinha usando armas norte-americanas originalmente destinadas a equipar milícias apoiadas por Washington, segundo relatou na ocasião a rede CNN.

A preocupação com a possibilidade de que seus inimigos aproveitem equipamento militar norte-americano é tanta que as Forças Armadas habitualmente destroem seus próprios arsenais quando precisam evacuar uma base e não têm condição de transportar todo o equipamento.

Foi assim na Síria, em 2019, quando um depósito de munição foi bombardeado pelas tropas dos EUA durante sua retirada. O mesmo ocorreu em 2021, como armas e munição destruídas durante a saída da coalizão ocidental do Afeganistão. Ainda assim, há registro de veículos militares blindados do Exército da Dinamarca acabaram nas mãos do Taleban.

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