Beijing diz que prendeu cidadão chinês acusado de ser um ‘agente’ a serviço dos EUA

Segundo o governo, o mais recente caso de espionagem teria ocorrido em 2021 em uma unidade industrial militar e de defesa

Através de uma reportagem transmitida pela sua mídia estatal, Beijing revelou no domingo (22) um novo caso de espionagem envolvendo um pesquisador chinês ligado à área de defesa. O suspeito teria sido recrutado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos para atuar como informante durante o período em que atuou como professor visitante em território norte-americano há dez anos, conforme apurou o Ministério da Segurança do Estado, a principal agência antiespionagem chinesa.

Segundo a CCTV, a principal rede de TV pública da China, em julho de 2021, autoridades de segurança da província de Sichuan, no sudoeste do país, descobriram uma grande atividade de espionagem em uma unidade industrial militar e de defesa. Um suspeito, identificado como Hou, foi detido, repercutiu a revista Newsweek. Ele é o quarto indivíduo a ser exposto pelas autoridades chinesas como um “espião” a serviço de Washington desde o mês de agosto.

A trajetória de Hou detalhada pela CCTV é digna de um roteiro policial. Ele teria trabalhado em um instituto de defesa chinês não identificado e depois viajado em 2013 para os Estados Unidos, onde atuou como professor visitante em janeiro daquele ano em uma universidade não identificada.

Bandeiras dos EUA e da China lado a lado (Foto: U.S. Department of Agriculture/Flickr)

Lá, Hou teria sido apresentado por outro professor a um agente de inteligência norte-americano disfarçado como consultor. Após o encontro, o agente, identificado como “Jacob”, ofereceu ao chinês trabalhos de consultoria para sua empresa, pagando entre US$ 600 (cerca de R$ 3 mil) e US$ 700 (R$ 3,5 mil) por cada trabalho.

Foi então que Hou passou a fornecer a Jacob relatórios baseados em informações públicas sobre tópicos que abrangiam o armazenamento de hidrogênio e materiais fotovoltaicos, conforme reportagem do South China Morning Post.

Meses depois, “Jacob” revelou sua verdadeira identidade ao professor e passou a pressioná-lo, pedindo que eles continuassem em contato mesmo após seu retorno à China. Hou concordou, alegando preocupações com a segurança de sua família.

Antes de retornar à China, Jacob forneceu treinamento a Hou sobre como manter contato e o apresentou ao seu superior em uma reunião. Durante o encontro, segundo detalhou a CCTV, o superior do agente norte-americano “promoveu de forma evidente os valores norte-americanos”, desvalorizou as conquistas de desenvolvimento chinesas e tentou influenciar ideologicamente o espião.

Agora, Hou enfrenta acusações de enviar aos Estados Unidos dois documentos ultrassecretos, três confidenciais e seis secretos a partir de 2013. Segundo a mídia chinesa, essas ações resultaram em “danos graves” à segurança nacional e aos interesses da nação.

Após sua detenção há dois anos, Hou foi transferido para o Tribunal Popular Intermediário de Chengdu e, atualmente, está aguardando julgamento.

O caso de Hou destaca o aumento do foco da China em identificar espiões, tanto envolvendo seus próprios cidadãos quanto estrangeiros. Recentemente, Beijing anunciou a prisão de um funcionário da empresa farmacêutica japonesa Astellas Pharma Inc., sob suspeita de envolvimento em atividades de inteligência.

Em julho, a China ampliou o escopo de sua lei antiespionagem, dando às autoridades poderes para obter acesso a informações eletrônicas. A medida abrange todos os “documentos, dados, materiais e itens relacionados à segurança nacional”.

Especialistas e analistas em legislação chinesa dos Estados Unidos expressaram preocupação com a linguagem vaga da nova legislação, que poderia facilitar a detenção arbitrária de cidadãos norte-americanos.

Nesse contexto de pente-fino, grupos empresariais disseram que empresas globais estão repensando seus planos de investimento no país e têm redirecionado os negócios para outras economias no Sudeste Asiático e para a Índia, entre outro países.

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