Brasil acompanha Rússia e Irã e reforça posição pró-China após eleições presidenciais em Taiwan

Brasília opta por ignorar resultado do pleito na ilha e diz que apoia reivindicação de Beijing contra a independência taiwanesa

Na última sexta-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou em Fortaleza com Wang Yi, ministro das Relações Exteriores chinês. Segundo o Palácio do Planalto, os dois “trataram da crescente parceria entre Brasil e China no setor de energias renováveis e discutiram projetos e ações conjuntas na África”. A reunião também serviu para o país reforçar seu apoio ao princípio “Uma Só China”, colocando-se novamente ao lado de Beijing nas questões referente a Taiwan, que luta para ter sua autonomia reconhecida e realizou eleições presidenciais recentemente.

“O ministro trouxe os cumprimentos do presidente Xi Jinping e a reunião expressou o desejo mútuo de manutenção e desenvolvimento da forte relação e amizade entre Brasil e China. Na ocasião, Lula reafirmou a posição brasileira de reconhecimento da existência de ‘uma só China'”, disse o governo brasileiro em comunicado.

Lula e o Wang Yi: apoio do Brasil ao princípio “Uma só China” (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

A manifestação mais recente reforça uma posição que o Brasil havia manifestado em 2023, por conta da visita de Lula à China entre 12 e 15 de abril. Na ocasião, os dois governos divulgaram uma declaração conjunta sobre o aprofundamento da parceria estratégica entre as nações, e Brasília oficializou sua concordância com a ideia de “Uma Só China”.

“A parte brasileira reiterou que adere firmemente ao princípio de uma só China, e que o governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, enquanto Taiwan é uma parte inseparável do território chinês”, diz o texto de abril do ano passado. “Ao reafirmar o princípio da integridade territorial dos estados, apoiou o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan. A parte chinesa manifestou o grande apreço a esse respeito.”

Brasil ao lado de Rússia e Irã

O princípio, estabelecido pelo Partido Comunista Chinês (PCC), determina que há um único Estado chinês soberano e que Taiwan é parte dele. É uma maneira de Beijing impor diplomaticamente sua soberania em relação à ilha, que luta para ter a independência reconhecida globalmente. Nações que tratem Taiwan como nação autônoma estão, no entendimento chinês, em desacordo com a ideia de “Uma Só China“.

Por conta do pleito taiwanês, outros importantes aliados da China usaram seus canais diplomáticos para manifestar apoio a Beijing, como fez o Brasil. O princípio foi igualmente citado pela Rússia logo após a eleição, quando a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, divulgou um comunicado.

“A parte russa reconhece que existe apenas uma China, que a República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China e que Taiwan é uma parte inalienável da China. O lado russo se opõe a qualquer forma de independência de Taiwan”, diz o texto.

Dois dias após a eleição, que decretou a vitória de Lai Ching-te para presidir Taiwan, o Irã foi outro que se manifestou em favor da China. “A República Islâmica do Irã respeita a integridade territorial e a soberania nacional dos países como uma peça central da sua política externa”, disse o porta-voz do Ministério das Reações Exteriores, Nasser Kana’ani, segundo o site local Fars News, igualmente citando o princípio.

A posição ocidental

Enquanto os parceiros chineses optaram por manifestar apoio a Beijing, aliados ocidentais optaram por parabenizar Lai pela vitória. Caso da União Europeia (UE), que em seu discurso citou questões sensíveis para a China, como democracia e direitos humanos.

“A União Europeia saúda as eleições realizadas em Taiwan em 13 de janeiro e felicita todos os eleitores que participaram deste exercício democrático. Os nossos respetivos sistemas de governança se baseiam num compromisso partilhado com a democracia, o Estado de direito e os direitos humanos”, disse o bloco, manifestando ainda preocupação com a estabilidade na região, referência à expectativa por uma invasão chinesa para anexar formalmente a ilha.

O governo britânico acompanhou a UE. “As eleições de hoje são um testemunho da vibrante democracia de Taiwan. Apresento calorosas felicitações ao povo de Taiwan pela boa condução dessas eleições e ao Dr. Lai Ching-te e seu partido pela eleição. Espero que os dois lados do Estreito de Taiwan renovem os esforços para resolver as diferenças pacificamente através de um diálogo construtivo, sem ameaça ou uso de força ou coerção”, diz texto assinado pelo secretário de Relações Exteriores, David Cameron.

Quem optou por manter a “ambiguidade estratégica” foi o governo dos EUA, que oficialmente também reconhece o princípio “Uma Só China”. Por conta disso, o presidente Joe Biden disse, segundo a agência Reuters, que seu país “não apoia a independência” da ilha, embora seja o principal parceiro de Taipé e tenha afirmado que inclusive enviaria apoio militar para conter uma eventual invasão chinesa.

O Departamento de Estado, por seu lado, tratou de equilibrar o jogo e felicitou Lai pela vitória, dizendo que os EUA “estão empenhados em manter a paz e a estabilidade através do Estreito e na resolução pacífica das diferenças, livres de coerção e pressão.”

“Esperamos trabalhar com o Dr. Lai e com os líderes de Taiwan de todas as partes para promover os nossos interesses e valores partilhados e para promover a nossa relação não oficial de longa data, consistente com a política dos EUA de Uma Só China”, afirmou o órgão diplomático. 

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