No final de setembro, o aplicativo de mensagens Telegram anunciou uma mudança em suas diretrizes, passando a compartilhar mais dados pessoais sigilosos de usuários com autoridades que apresentem ordens judiciais válidas. As novas regras já estão em andamento, e um levantamento feito nesse período coloca o Brasil como terceiro país com mais solicitações feitas à plataforma.
O site russo Meduza.io publicou na terça-feira (15) um mapa apontando os países que mais fizeram solicitações de dados pessoas de usuários ao Telegram. Os números foram obtidos por Etienne Mainier, que se apresenta como ativista, hacker e pesquisador de segurança a serviço da ONG Human Rights Watch (HRW).

Segundo Mainier, as estatísticas são fornecidas pelo Telegram a qualquer pessoa que as solicite, desde que o pedido tenha partido do mesmo país cujos dados foram requisitados. Ou seja, para conhecer os dados referentes ao Brasil é necessário que a solicitação parta de um IP brasileiro.
O ativista, então, pediu a seus seguidores que abrissem requisições referentes a seus próprios países e montou um panorama global. Muitas nações, entretanto, não têm dados disponíveis neste balanço inicial. Caso da Rússia, de onde o Telegram é originário.
Desde que as novas diretrizes entraram em vigor, o país que mais vezes solicitou dados pessoais de usuários ao Telegram foi a Índia, com 15.590 pedidos. Em segundo lugar, com 686, aparece a França, justamente a nação onde foi preso o CEO e cofundador russo da plataforma, Pavel Durov. Em terceiro na relação está o Brasil, com 369 pedidos.
A decisão de facilitar o compartilhamento de dados de usuários é, de acordo com o próprio Telegram, uma tentativa de amenizar as críticas acumuladas ao longo dos anos de que permite a disseminação de tráfico de drogas, crimes cibernéticos e material de abuso sexual infantil em seus canais.
Segundo Durov, as mudanças nos termos de serviço e na política de privacidade visam desestimular tais atividades criminosas. Ele destacou que, “enquanto 99,999% dos usuários não estão envolvidos em crimes, os 0,001% que participam dessas atividades prejudicam a imagem da plataforma e ameaçam os interesses de quase um bilhão de usuários”.
Para ativistas de direitos humanos, entretanto, a decisão de compartilhar os dados é preocupante. “O marketing do Telegram como uma plataforma que resistiria às exigências do governo atraiu pessoas que queriam se sentir seguras para compartilhar suas visões políticas em lugares como Rússia, Belarus e Oriente Médio”, disse John Scott-Railton, pesquisador sênior do Citizen Lab da Universidade de Toronto.
Scott-Railton avaliou que as novas diretrizes indicam que a plataforma oferecerá menor resistência quando pressionada por regimes autoritários. Algo que de certa forma se confirma com a liderança indiana no ranking. O governo do país também foi citado em 2021 como o que mais solicitava dados pessoais de usuários ao Twitter, hoje X.