Com adesão da Finlândia, Otan ganha exército treinado para conter a Rússia

Focada em defender a fronteira, Helsinque tem artilharia móvel mais poderosa que as de França e Alemanha somadas

Na última terça-feira (4), a Finlândia teve sua bandeira hasteada na sede da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Bruxelas, na Bélgica, e assim oficializou o aguardado ingresso na aliança militar transatlântica. O 31º membro entrega ao grupo encabeçado pelos EUA um exército moderno e treinado especialmente para conter a Rússia, com quem divide uma fronteira de 1,3 mil quilômetros. É o que afirma reportagem da revista Newsweek.

A Finlândia tem atualmente 23 mil integrantes em suas forças armadas permanentes, bem como um orçamento militar de US$ 6 bilhões. O efetivo, porém, pode ser ampliado para 280 mil em tempos de guerra, com os excedentes extraídos de um corpo de 900 mil reservistas que regularmente participam de treinamentos de combate.

A política militar finlandesa já está enquadrada nas metas da Otan, que desde 2014 recomenda a seus integrantes que invistam ao menos 2% do PIB (produto interno bruto) em defesa. É exatamente essa a porcentagem adotada por Helsinque, com a possibilidade de que seja ampliada nos próximos anos devido à tensão crescente entre o Ocidente e os vizinhos russos.

Militar exibe em seu uniforme a bandeira da Finlândia (Foto: Santeri Viinamäki/WikiCommons)
O arsenal finlandês

Foi justamente a agressão russa à Ucrânia que levou a Finlândia a abandonar décadas de neutralidade e pleitear uma vaga na Otan. O processo foi rápido para os padrões da aliança, concluído em menos de um ano, apesar da hesitação de Hungria e Turquia.

Com experiência de combate recente, já que fez parte da coalizão ocidental no Afeganistão, o exército finlandês tem como principal foco a defesa da fronteira com a Rússia. Pensando nisso, o país investe pesado em artilharia móvel, detendo uma capacidade nesse setor que supera as de França e Alemanha somadas.

“A Finlândia é bastante capaz em sua capacidade geral. Mas, ao fornecer território para a Otan, a adesão da Finlândia também facilitará uma melhor defesa de toda a região”, avalia Matti Pesu, pesquisador sênior do think tank Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. “O exército finlandês e as forças terrestres constituirão a espinha dorsal das forças terrestres aliadas no norte da Europa”.

De acordo com o general Timo Kivinen, principal comandante das forças armadas finlandesas, o país tem “capacidade defensiva significativa para travar o tipo de guerra que está ocorrendo agora na Ucrânia”. Ao comparar o poder de fogo que tem em mãos com o de seus vizinhos, faz uma avaliação otimista: “Em uma base per capita, temos provavelmente o maior poder de fogo da Europa”.

Para a aliança militar, o ingresso do novo membro fortalece a linha de frente contra os russos, que já contava com outros quatro países fronteiriços: Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia. De quebra, com a região da Lapônia à disposição, a Otan tem agora a maior área da Europa para o treinamento de combate aéreo.

Segundo Pesu, há um consenso na Finlândia de que suas forças armadas são amplamente capacitadas, bem treinadas e equipadas. Porém, por ser um país pequeno, falta volume, o que em parte explica a decisão de se unir à Otan. “Precisamos de uma reserva mais ampla de capacidades militares que a Finlândia possa explorar”, diz ele.

Por ora, a única incerteza no que tange à relação entre Finlândia e Otan reside no fato de que o governo será mudado. Afinal, a primeira-ministra de esquerda Sanna Marin, que sempre defendeu a adesão à aliança, foi derrotada na recente eleição que deu grande impulso aos partidos conservadores finlandeses. Nadam, porém, que coloque a parceria em risco.

Na visão do analista, o que pode levar algum tempo para ser estabelecido é o tamanho do contingente que a aliança instalará no país escandinavo. Ele projeta um número pequeno de tropas nos primeiros anos, com a possibilidade de que isso mude a longo prazo.

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