Com disputa renovada, chanceler projeta permanência das Malvinas sob domínio britânico

Em vista ao arquipélago disputado com a Argentina, David Cameron reiterou o desejo de que as ilhas sejam 'parte da família britânica para sempre'

Na segunda-feira (19), o ministro de Relações Exteriores britânico, David Cameron, visitou os locais de batalha da Guerra das Malvinas, em uma viagem que sinalizou a importância para o Reino Unido do território, alvo de disputas desde o século 19 com a Argentina. As informações são da agência Associated Press.

Essa foi a primeira vez em 30 anos que uma autoridade da diplomacia britânica fez uma visita oficial ao arquipélago no Atlântico Sul, que fica a uma distância de 500 quilômetros da costa argentina. A viagem ocorreu em meio a pedidos renovados de Buenos Aires por negociações sobre o território disputado, chamado pelos argentinos de Ilhas Malvinas e pelos ingleses de Falkland Islands.

Durante a visita, Cameron manifestou seu desejo de que as ilhas permaneçam “parte da família britânica”.

“Enquanto as Falklands quiserem fazer parte da família do Reino Unido, são absolutamente bem-vindas. E nós iremos apoiá-las e ajudar a protegê-las e defendê-las, possivelmente para sempre”, disse.

Antigo modelo de canhão da Marinha Real britânica usado no começo do século 20, que ficou para trás nas Ilhas Malvinas (Foto: WikiCommons)

Essa demonstração de apoio vem em meio a recentes tensões atualizadas entre o Reino Unido e a Argentina, reacendendo as antigas disputas territoriais que em 1982 resultaram em sangue derramado no solo infértil e de quase total ausência de fauna e flora, num conflito que se estendeu por 72 dias. Mais de 900 militares argentinos e britânicos foram mortos, bem como três ilhéus.

Mesmo que a vitória inglesa na Guerra das Malvinas tenha contribuído para o fim da ditadura argentina, parte da população continua a defender a recuperação do território. A eleição de Javier Milei como presidente ano passado renovou as esperanças dessas pessoas, já que, durante sua campanha, o ultraliberal sugeriu a possibilidade de recuperar o arquipélago por “meios diplomáticos”.

Cameron enfatizou que a relação entre o Reino Unido e a Argentina nunca será prejudicada pelos desejos dos habitantes das Ilhas Malvinas, que são prioridade absoluta em sua visão. O Ministério das Relações Exteriores britânico sustenta que ambos os países discordam respeitosamente sobre a questão.

Em um referendo realizado em 2013, os residentes das Ilhas Malvinas votaram de forma esmagadora para permanecer como um Território Ultramarino autônomo do Reino Unido.

A última visita de um secretário de Relações Exteriores britânico às Malvinas ocorreu em 1994, com Douglas Hurd.

Entenda

O Reino Unido controla as ilhas desde 1833, mas a Argentina afirma que elas foram ilegalmente ocupadas pelos britânicos naquele ano.

Nos anos 1980, Argentina e Reino Unido travaram uma batalha pela soberania das Ilhas Malvinas. A Argentina, então comandada por Leopoldo Fortunato Galtieri, tomou o controle das ilhas. E o presidente e general declarou na Casa Rosada que o povo argentino estaria “pronto para a batalha”.

Na época, o Reino Unido era liderado pela primeira-ministra Margaret Thatcher, a primeira mulher a chefiar o governo. O país europeu venceu o conflito. 

Hoje, mais de 40 anos depois, a questão segue sendo discutida no Comitê Especial de Descolonização, conhecido como C24, ativo desde 1964. Em julho de 2023, diversas nações se reuniram, mais uma vez, para pedir às partes que retomem o diálogo, buscando uma resolução “pacífica e definitiva” para o impasse na região.

Assim como países membros do Mercosul, Celac e G77+China, o Brasil reafirmou seu apoio à Argentina à época. A diplomata brasileira Bruna Gagliardi afirmou que se trata de uma “ocupação ilegal”, em que a autodeterminação dos povos não se aplica.

A questão entre os países pela soberania do arquipélago tem origem da colonização do continente sul-americano. Antes mesmo da independência da Argentina, Espanha e Reino Unido expressavam discordâncias sobre o território. 

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