Com Trump em alta, União Europeia projeta uma eventual guerra sem o apoio dos EUA

Político alemão diz que 'a opção nuclear é verdadeiramente decisiva' e que a Europa deve construir suas próprias defesas

Considerando a hipótese de Donald Trump voltar à cadeira que ocupou na Casa Branca entre 2017 e 2021, o líder do maior grupo político da União Europeia (UE) fez um alerta: os países do bloco precisam se preparar para cenários de conflito sem contar com o apoio dos Estados Unidos. Mais que isso: devem construir sua própria defesa nuclear. As informações são do site Politico.

O alemão Manfred Weber, à frente do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, é apontado como favorito para as eleições do Parlamento Europeu em junho. Ele vê Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, como figuras determinantes para o cenário geopolítico de 2024.

A perspectiva de Trump ser confirmado como candidato presidencial republicano, depois de vencer as prévias partidárias nos estados de Iowa e New Hampshire, está deixando a Europa apreensiva. Quando no poder, o ex-presidente criticou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e acusou os europeus de não contribuírem o suficiente financeiramente, por isso ameaçou não intervir em caso de ataque aos aliados do continente.

Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (PPE), destacou a importância da autossuficiência e defesa europeia em meio às incertezas geopolíticas (Foto: European Parliament/Flickr)

Weber, por sua vez, destacou a importância da Otan, mas ressaltou a necessidade de a Europa ser autônoma em defesa, mesmo em tempos desafiadores como os de Trump. Ele enfatizou que, eleito quem for nos EUA, a Europa deve ter “independência em política externa e capacidade de autodefesa.”

Essa situação traz à tona o complexo cenário das defesas nucleares na Europa. Atualmente, a Otan confia fortemente nas ogivas nucleares dos Estados Unidos, estrategicamente posicionadas em seis bases militares aéreas em nações como Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia.

“É crucial que a Europa construa dissuasão, sendo capaz de se proteger e dissuadir ameaças”, destacou Weber. “Todos sabemos que, em momentos críticos, a opção nuclear é verdadeiramente decisiva.”

Após a invasão massiva da Ucrânia pela Rússia, Putin intensificou sua retórica nuclear, fazendo ameaças veladas ao Ocidente com frequência. Calcula-se que Moscou tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. E a facilidade de dispará-las cria um problema, vez que podem partir da maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como de lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

Dentro da UE, a França é o único país com potencial para desempenhar um papel mais significativo, possuindo cerca de 300 ogivas nucleares. O presidente Emmanuel Macron propôs uma liderança francesa na dissuasão nuclear europeia em 2020, buscando um “diálogo estratégico” sobre o papel da dissuasão nuclear na segurança coletiva da Europa. No entanto, a oferta não foi aceita pela Alemanha. Em 2022, Paris renovou o apelo para uma discussão com Berlim, mantendo a oferta em aberto.

Weber também destacou a necessidade de considerar a internacionalização da “force de frappe“, designação francesa para suas forças de dissuasão nuclear, incluindo arsenais de mísseis balísticos. Ele expressa o desejo de ver a dimensão europeia da defesa nuclear como um objetivo de longo prazo. Enquanto isso não for realista, sugere aceitar a oferta de Macron e pensar em como o armamento nuclear francês pode ser incorporado nas estruturas europeias.

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