Rússia pressiona EUA a assinar tratado e ameaça retomar testes nucleares

Moscou diz que Washington usufrui do monitoramento global, mas não se compromete a abolir os experimentos militares

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1996, o Tratado Abrangente de Proibição de Testes Nucleares (CTBT, na sigla em inglês) não está em vigor porque oito nações não o ratificaram. Entre elas os Estados Unidos. Agora, a Rússia usa a recusa norte-americana para ameaçar retomar os testes de armas nucleares, conforme aumenta a tensão em torno da questão paralelamente ao desenvolvimento da guerra na Ucrânia. As informações são da revista Newsweek.

Moscou tem usado seu arsenal nuclear, o maior do mundo, para ameaçar o Ocidente, que fornece armas e treinamento às tropas de Kiev em meio ao conflito. O governo russo chegou a firmar um acordo para posicionar armas nucleares estratégicas em Belarus, mais perto da fronteira com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Míssil russo com capacidade nuclear (Foto: reprodução/Facebook)

Agora, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia retomou o debate referente ao CTBT. Em declaração oficial reproduzida pela imprensa estatal, Moscou diz que Washington se aproveita do sistema de monitoramento nuclear, “mas ao mesmo tempo se recusa teimosamente a ratificar” o documento. “Isto não pode continuar indefinidamente”, diz o texto.

Por ora, Moscou diz que não retomará os testes, a não ser que os EUA façam o mesmo antes. A posição russa, porém, é volátil, e o governo vem debatendo nos últimos meses a possibilidade de abandonar o pacto.

“Infelizmente, por mais de um quarto de século, o CTBT, que tinha como objetivo interromper permanentemente todos os tipos de testes nucleares, não entrou em vigor”, disse Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Ela ainda condenou o “comportamento destrutivo e irresponsável dos Estados Unidos, que se recusaram oficialmente a ratificar o tratado em 2018 e continuam a aderir a esta posição.”

Diante de tal cenário, o parlamentar russo Andrey Gurulyov tornou-se a mais nova figura pública local a falar em usar armas nucleares contra Kiev. Ele disse que o momento é propício para um ataque contra a região ucraniana de Robotyne, recentemente retomada pelas forças de Kiev.

Embora não esteja formalmente em vigor, o CTBT é considerado um sucesso. Desde 1996, apenas três países realizaram experimentos do gênero: Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Além desses e dos EUA, China, Egito, Irã e Israel também não ratificaram o pacto, mas têm respeitado seus termos.

Ameaça crescente

Isso, porém, não impede as nações de se armarem. Estudo publicado em junho pelo think tank sueco Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI na sigla em inglês) afirma que a ameaça nuclear global aumentou consideravelmente entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, com uma quantidade maior de ogivas à disposição das forças armadas das grandes potências.

Em janeiro deste ano, o estoque global total ogivas era de 12.512, sendo que 9.576 estavam em estoques militares para uso potencial. Trata-se de um aumento de 86 ogivas operacionais em relação ao que se registrava em janeiro de 2022, indicando uma maior prontidão das grandes potências para um eventual ataque.

Dessas mais de 9,5 mil ogivas, 3.844 foram implantadas em mísseis e aeronaves. Já outras duas mil, quase todas pertencentes a Rússia ou EUA, foram mantidas em estado de alerta operacional máximo, o que significa que foram instaladas em mísseis ou mantidas em bases aéreas que hospedam bombardeiros nucleares.

O estudo mostra que Moscou e Washington continuam na liderança absoluta do ranking nuclear, com 90% de todas as ogivas do mundo. A China, porém, tem reduzido a diferença e aumentou seu arsenal de 350 para 410 ogivas ao longo desse último ano, tendo gastado US$ 11,7 bilhões no programa nuclear em 2021.

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