EUA adicionam sete empresas chinesas à lista de controle de exportação

Medida ocorre pouco depois de Joe Biden sancionar lei que reforça a indústria americana de semicondutores

Alegando preocupações com a segurança nacional e questões de política externa, o Departamento de Indústria e Segurança (BIS, da sigla em inglês), órgão do Departamento de Comércio dos EUA, adicionou na terça-feira (23) sete estatais chinesas ligadas ao setor aeroespacial e de chips à sua lista de controle de exportação. A justificativa é a de que elas dão suporte a Beijing na modernização de suas forças armadas. As informações são do jornal South China Morning Post.

Com a medida em vigor, as empresas norte-americanas agora precisarão obter junto às autoridades uma licença especial de exportação caso planejem vender ou oferecer serviços às empresas listadas, quais sejam: China Aerospace Science and Technology Corporation 9th Academy 771 Research Institute, China Aerospace Science and Technology Corporation 9th Academy 772 Research Institute, China Academy of Space Technology 502 Research Institute, China Academy of Space Technology 513 Research Institute, China Electronics Technology Group Corporation 43 Research Institute, China Electronics Technology Group Corporation 58 Research Institute e Zhuhai Orbita Control Systems

O 771 Research Institute, por exemplo, também conhecido como Xian Microelectronics Technology Institute, projeta e fabrica circuitos integrados de semicondutores, segundo a Casc (Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China, da sigla em inglês), principal empresa associada ao programa espacial de Beijing. 

Entre as empresas sancionadas está a 771 Research Institute, presente no desenvolvimento do foguete Long March 5 (Foto: WikiCommons)

A empresa foi responsável por projetar a unidade central de processamento para o Long March 5, maior foguete chinês, projetado para transportar oito toneladas na órbita Terra-Lua e até cinco toneladas na órbita Terra-Marte. O instituto também esteve por trás do desenvolvimento de sistemas de computador usados ​​em missões lunares e marcianas.

“As tecnologias americanas que apoiam as atividades espaciais e aeroespaciais não devem ser usadas para apoiar o modernização militar da República Popular da China. Estamos constantemente monitorando estes setores para comprovar desvio”, disse em nota emitida pelo BIS o subsecretário de Comércio para Indústria e Segurança, Alan Estevez.

Ele acrescentou que o órgão governamental deve estar “vigilante” e precisa “agir com força” para afastar as tecnologias sensíveis norte-americanas do programa de fusão militar e civil da China.

Conhecida como “Entity List” (Lista de Entidades, em tradução literal), a lista soma aproximadamente 600 empresas chinesas que “operam contra a segurança nacional dos EUA e os interesses da política externa”.

O comportamento de Washington de tentar controlar o fluxo de tecnologias estratégicas para as empresas chinesas e, em última análise, para o complexo militar-industrial chinês, data da era Trump.

Contra essa crescente concorrência da China, o governo Biden sancionou neste mês a Chips and Science Act (Lei de Chips e Ciência) para reforçar a indústria de chips americana. A medida prevê a distribuição de mais de US$ 52 bilhões para empresas locais que produzem chips de computador. Outros bilhões em créditos fiscais irão para negócios que investem nas fábricas desse setor, conforme detalhou o Escritório de Orçamento do Congresso.

Há ainda a previsão de US$ 200 bilhões para financiar pesquisas científicas, especialmente nas áreas de inteligência artificial, robótica e computação quântica, além de outras tecnologias. 

“Intimidação econômica”, diz China

O Ministério do Comércio da China não tem poupado críticas ao seu maior rival econômico. Segundo artigo do jornal pró-Beijing Global Times, o órgão acusa os EUA de “usar controles de exportação como uma ferramenta de repressão política e intimidação econômica”.

Além disso, diz que Washington tem “continuamente tomado medidas unilaterais para suprimir e conter empresas, instituições e indivíduos de outros países, criando dificuldades para a cooperação econômica e comercial normal entre empresas chinesas e americanas”.

Por que isso importa?

Uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada tecnologia estratégica é uma das mais afetadas pela “guerra fria” entre China e EUA: a produção de semicondutores.

Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais redutos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Entretanto, um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro de 2020, aponta que a China tem vulnerabilidade nesse setor e ainda depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

A aproximação entre os EUA e a ilha reivindicada pela China também envolve a questão dos semicondutores. A TSCM (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, da sigla em inglês) tem recebido vastos recursos e incentivos para instalar plantas ultrassofisticadas em território norte-americano.

Em paralelo, há pressão de Washington para que as empresas escolham linhas de produção azuis, dos EUA, ou vermelhas, da China. Por isso o papel cada vez mais estratégico da ilha. Mas, caso a China se perceba isolada de componentes vitais para sua produção, há risco de forte reação seguida por impactos nas cadeias globais de produtos, diz o relatório.

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