EUA aprovam US$ 280 bilhões para impulsionar fabricantes de chips e enfrentar a China

Previsão é de US$ 200 bilhões para financiar pesquisas em áreas como inteligência artificial, robótica e computação quântica

O Congresso dos EUA aprovou na quinta-feira (28) um projeto de lei que tem como objetivo principal aumentar a musculatura comercial do país e acirrar a competitividade contra o principal rival econômico. A medida promete ampliar a vantagem tecnológica e industrial sobre a China, destinando US$ 280 bilhões para a indústria de chips e microprocessadores, incluindo pesquisa científica. As informações são da rede CNBC.

O placar da votação foi de 243 votos a 187, e agora aguarda pelo carimbo do presidente Joe Biden. Nenhum dos democratas se opôs ao projeto, ao contrário do que ocorreu entre os republicanos, que de última hora sofreram pressão do partido para votar contra. O argumento era de que o país não devia subsidiar a indústria de semicondutores, setor que não seria carente de doações do governo.

Mesmo assim, 24 republicanos endossaram a medida, o que deu a ela uma margem sólida no resultado. “É a intervenção governamental mais significativa na política industrial em décadas”, segundo o jornal The New York Times.

Fábrica de chips de computador no Estado norte-americano do Arizona (Foto: Picryl/Divulgação)

O resultado foi celebrado pelo chefe da Casa Branca em comunicado emitido após a votação. “É exatamente o que precisamos fazer para crescer nossa economia agora. Estou ansioso para sancionar este projeto de lei”, declarou Biden, que apoia o pacote há mais de um ano.

O projeto, conhecido como Chips and Science Act (Lei de Chips e Ciência), prevê a distribuição de mais de US$ 52 bilhões para empresas locais que produzem chips de computador. Outros bilhões em créditos fiscais irão para negócios que investem nas fábricas desse setor, conforme detalhou o Escritório de Orçamento do Congresso.

Há ainda a previsão de US$ 200 bilhões para financiar pesquisas científicas, especialmente nas áreas de inteligência artificial, robótica e computação quântica, além de outras tecnologias. No fim, a promessa de milhares de novos empregos foi o que uniu democratas e republicanos, segundo o NY Times.

Divergências

Quem também comemorou a aprovação foi a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, da Califórnia. Ela definiu o projeto de lei como “uma grande vitória para as famílias americanas e a economia americana”.

Já os líderes republicanos não mostram o mesmo otimismo. Como argumento contrário à concessão de subsídios astronômicos, eles citaram o período histórico de elevação na inflação.

“A agenda partidária democrata nos deu uma inflação recorde, e agora eles estão prontos para enviar nosso país a uma recessão esmagadora”, disse o líder da minoria na Câmara, Steve Scalise, deputado da Louisiana.

Apesar das críticas, há senadores republicanos que veem com bons olhos a nova legislação, considerando o fortalecimento na capacidade fabril de semicondutores dos Estados Unidos. Particularmente em um momento em que o país se tornou “perigosamente dependente de estrangeiros”, entre eles Taiwan, território semiautônomo ameaçado pela China.

Por que isso importa?

Uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada tecnologia estratégica é uma das mais afetadas pela “guerra fria” entre China e EUA: a produção de semicondutores.

Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais redutos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Entretanto, um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro de 2020, aponta que a China tem vulnerabilidade nesse setor e ainda depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

A aproximação entre os EUA e a ilha reivindicada pela China também envolve a questão dos semicondutores. A TSCM (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, da sigla em inglês) tem recebido vastos recursos e incentivos para instalar plantas ultrassofisticadas em território norte-americano.

Em paralelo, há pressão de Washington para que as empresas escolham linhas de produção azuis, dos EUA, ou vermelhas, da China. Por isso o papel cada vez mais estratégico da ilha. Mas, caso a China se perceba isolada de componentes vitais para sua produção, há risco de forte reação seguida por impactos nas cadeias globais de produtos, diz o relatório.

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