EUA admitem produzir armas em parceria com Taiwan para enfrentar ameaça chinesa

Representante de Washington na ilha diz que apoio militar é crucial para sustentar a capacidade de autodefesa do aliado

O governo norte-americano está disposto a firmar uma parceria com Taiwan para produção de armas, fortalecendo assim a capacidade de autodefesa do aliado contra a ameaça de uma invasão por parte da China. A afirmação é do representante dos EUA na ilha, Raymond Greene.

Embora não mantenham relações diplomáticas formais com Taiwan, os EUA são o mais importante parceiro militar e comercial da ilha. O Instituto Americano em Taiwan (AIT, na sigla em inglês), agora chefiado por Greene, funciona como uma embaixada de fato por lá.

“Os EUA estão agora trabalhando com vários parceiros, analisando possibilidades de expandir nossa produção conjunta de suprimentos militares, e não descarto Taiwan como um desses parceiros no futuro”, disse Greene durante uma conversa com repórteres na quarta-feira (4), segundo relato da agência Reuters.

Integrantes da Força Aérea de Taiwan (Foto: facebook.com/cafhq)

Recém-nomeado para o cargo de diretor do AIT, Greene também publicou um comunicado no site do órgão e abordou a questão chinesa, destacando que o objetivo dos dois parceiros é “manter a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan”.

Para isso, no entanto, aponta a necessidade de investir na dissuasão militar. “O fornecimento de artigos e serviços de defesa pelos Estados Unidos a Taiwan é essencial para aumentar as capacidades de autodefesa de Taiwan, compatível com a ameaça que Taiwan enfrenta”, diz ele no texto.

A preocupação norte-americana com uma possível anexação da ilha por Beijing, de acordo com o diretor, tem fundo comercial. “Cerca de metade de todo o comércio global flui pelo Estreito de Taiwan, e 90% dos semicondutores de ponta são produzidos em Taiwan”, afirma o comunicado.

Embora a ilha seja a prioridade norte-americana na região do Indo-Pacífico, outras questões merecem atenção de Washington, todas de alguma forma relacionadas à China.

“Taiwan não é o único alvo dos esforços da RPC (República Popular da China) para usar intimidação e coerção para mudar o status quo”, diz ele. “Mais e mais países estão percebendo a importância de cooperar com os Estados Unidos e outros parceiros com ideias semelhantes para preservar o sistema internacional baseado em regras que facilitou a paz e a prosperidade na região.”

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

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