Invasão de Taiwan pela China não é iminente, diz secretário de Defesa dos EUA

Lloyd Austin afirma que a presença constante de jatos e navios das forças armadas chinesas no Estreito de Taiwan é o 'novo normal'

Apesar da tensão crescente, uma invasão de Taiwan pelas forças da China não está no horizonte. A avaliação foi feita pelo secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, em entrevista ao podcast GPS, comandado pelo jornalista Fareed Zakaria, da rede CNN. “Não vejo uma invasão iminente”, declarou a autoridade norte-americana.

A escalada no Estreio de Taiwan é resultado direto da visita feita à ilha no início de agosto por Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA. Desde então, a China intensificou as incursões aéreas e aumentou consideravelmente a presença de navios militares nas águas no entorno de Taiwan, com exercícios militares frequentes e um bloqueio eficaz imposto temporariamente à ilha.

“O que vemos é a China se movendo para estabelecer o que chamaríamos de um novo normal. Aumento da atividade. Vimos várias travessias da linha central do Estreito de Taiwan por suas aeronaves. Esse número tem aumentado ao longo do tempo. Vimos mais atividade com seus navios de superfície dentro e ao redor de Taiwan”, disse ele.

Os EUA e seus aliados não recuaram diante da provocação chinesa, com o aumento da presença de navios de guerra da marinha norte-americana nas águas da região. Nesse período, o presidente Joe Biden chegou a afirmar que “sim”, enviaria tropas para defender Taiwan em caso de uma agressão chinesa.

Austin: beligerância da China no Estreito de Taiwan é o “novo normal” (Foto: French Embassy in the U.S.)

O “sim” de Biden é até agora o mais claro posicionamento de Washington sobre sua atuação militar em socorro à ilha autogovernada. Oficialmente, a política norte-americana é de ambiguidade, sobretudo em função do compromisso firmado com Beijing de apoio à política de “Uma só China”. Nesse cenário, até então não estava claro se as forças norte-americanos pretendem agir ou não em caso de invasão.

Questionado se Washington está se preparando para enviar tropas a Taiwan, como declarou o presidente, Austin preferiu não se comprometer. “As forças armadas americanas estão sempre preparadas para proteger nossos interesses e cumprir nossos compromissos. Acho que o presidente foi claro ao fornecer suas respostas a uma pergunta hipotética”, disse.

A autoridade, porém, reforçou a promessa habitual de que os EUA apoiam a ilha. “Estamos comprometidos em ajudar Taiwan a desenvolver a capacidade de se defender”, afirmou ele. “Novamente, continuamos a trabalhar para garantir que tenhamos as capacidades certas nos lugares certos para assegurar que ajudemos nossos aliados a manter um Indo-Pacífico livre e aberto”.

Sobre a relação com Beijing, Austin disse que falou com o ministro da Defesa da China, general Wei Fenghe, “por telefone e pessoalmente”. Porém, atualmente o canal de comunicação entre eles “não está aberto”.

A cooperação entre os dois governos, no setor militar inclusive, foi interrompida logo após a visita de Pelosi. O secretário de Defesa jogou essa responsabilidade para o governo chinês: “Faremos tudo o que pudermos para continuar a sinalizar que queremos que esses canais sejam abertos, e espero que a China comece a se inclinar um pouco mais e trabalhar conosco”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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