Superar os EUA como maior economia do mundo não é a meta da China, diz ministro

Le Yucheng diz que China quer melhorar a vida das pessoas e contribuir positivamente para o mundo, não superar o PIB norte-americano

Segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, a China já há alguns anos dá indícios de que pode ultrapassar o rival ocidental e assumir o primeiro posto do ranking. Para o governo Xi Jinping, porém, essa não é uma meta, vez que há outras prioridades imediatas. As informações são do jornal South China Morning Post.

Na última terça-feira (18), o vice-ministro das Relações Exteriores Le Yucheng afirmou que Beijing só tem como objetivo superar os Estados Unidos no sentido de melhorar a vida das pessoas e contribuir positivamente para o mundo.

“Exceder os EUA em PIB… Não estamos interessados ​​nisso e não é isso que buscamos”, disse ele em um fórum realizado pelo Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, em Beijing. “Atender ao desejo do povo por uma vida melhor, é isso que o Partido Comunista Chinês (PCC) almeja”.

Uma estimativa do Banco Mundial aponta que a economia dos EUA cresceu 5,6% no ano passado. Assim, a economia chinesa provavelmente teria atualmente 80% do tamanho da norte-americana, mais que os 70% do ano anterior. Já o PIB per capita anual da China subiu para US$ 12.551 em 2021, aproximando-se do nível de alta renda de US$ 12.696 definido em 2020.

Le Yucheng, vice-ministro das relações exteriores vice-ministro das Relações Exteriores (Foto: china-embassy.org)

Mais uma vez, Le refuta a competição com os Estados Unidos. “Devemos nos opor à mentalidade da Guerra Fria de unilateralismo, interferência em assuntos internos, fazer círculos e política de grupo”, afirmou, culpando Washington pelas tensões comerciais crescentes entre as nações. “O cerne do problema está na política errada dos EUA para a China, na compreensão errada da China, nas visões erradas dos tempos e do mundo”.

Apesar de o crescimento econômico da China ter sido acima do esperado no ano passado, Beijing está em alerta para os problemas que têm se acumulado, como a população jovem em queda, a desaceleração do setor imobiliário e a dívida do governo local. Muitos analistas afirmam que a taxa de crescimento anual provavelmente diminuirá para algo entre 5% e 5,5% em 2022.

Pobreza real

As declarações do ministro se justificam porque a pobreza continua muito real para dois terços dos chineses, a fatia classificada como “rural”. É a parcela da população que os investidores na China “nunca enxergam”, segundo artigo publicado na revista Forbes, em setembro de 2021, pela jornalista radicada na China Anne Stevenson-Yang

Stevenson-Yang aborda questões como a precariedade da saúde nas áreas rurais e o déficit na educação e exemplifica. “Nas áreas rurais, de um quarto a um terço dos alunos do ensino fundamental sofrem de miopia não corrigida, anemia e vermes intestinais, geralmente uma combinação de dois ou três deles. A anemia e os vermes exaurem sua energia e reduzem a capacidade de concentração. A miopia os impede de aprender”, diz o texto.

Segundo ela, o cenário rural faz com que a China pareça o México, preso em uma armadilha de desenvolvimento. “Os empregos de baixa qualificação já estão deixando a China e começam a migrar para Vietnã, Índia e outros países, mas a força de trabalho chinesa não está equipada para mudar para empregos de maior qualificação”.

Ela também afirma que capital humano é o predicado mais importante para emergir do gueto de renda média em que países como o México estão afundados. “Imagine quase dois terços da população da China incapazes de encontrar emprego além de catadores de lixo, vendedores ambulantes ou os caras que param você em cruzamentos para limpar seu para-brisa”, diz.

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