O governo dos EUA anunciou na segunda-feira (4) que deu início a uma ação criminal contra um ex-embaixador do país acusado de espionagem em benefício de Cuba. O caso vinha ocorrendo há décadas, mas somente agora foi levado aos tribunais, segundo informações da agência Associated Press (AP).
Victor Manuel Rocha nasceu na Colômbia, se naturalizou norte-americano e tornou-se funcionário do Departamento de Estado norte-americano em 1981. Desde então, entre outros cargos que ocupou, serviu ao Conselho de Segurança Nacional, entre 1994 e 1995, e atuou como embaixador dos EUA na Argentina, entre 1997 e 1999, e na Bolívia, entre 1999 e 2002.
Todos os indícios, porém, sugerem que desde o ingresso no serviço público ele atuava como um agente ilegal para uma nação estrangeira, traição que permaneceu impune por mais de quatro décadas.
Preso na última sexta-feira (1º) em Miami, Rocha é suspeito de se encontrar com agentes dos serviços de inteligência de Cuba e de entregar ao governo norte-americano informações falsas a respeito de suas viagens e dos contatos que mantinha como diplomata.
De acordo com autoridades norte-americanas, o caso contra o diplomata ilustra como atua a inteligência cubana, segundo eles bastante sofisticada e focada principalmente em cooptar funcionários do governo com tendência a servir como agentes duplos.
“Esta ação expõe uma das infiltrações de maior alcance e mais duradouras no governo dos Estados Unidos por um agente estrangeiro”, disse o procurador-geral Merrick B. Garland.
Ainda segundo Garland, por mais de 40 anos o espião ocupou cargos governamentais que lhe proporcionariam “acesso a informações não públicas e a capacidade de afetar a política externa dos EUA.” Por exemplo, Rocha serviu entre 2006 e 2012 como conselheiro das Forças Armadas dos EUA, em um setor cuja área de responsabilidade era justamente a de Cuba.
“A denúncia alega que Rocha manteve em segredo o seu estatuto de agente cubano, a fim de proteger a si mesmo e aos outros e para se permitir a oportunidade de se envolver em atividades clandestinas adicionais”, disse o Departamento de Justiça dos EUA em comunicado.
O órgão diz, ainda, que o ex-diplomata “forneceu informações falsas e enganosas aos Estados Unidos para manter a sua missão secreta; viajou para fora dos Estados Unidos para se encontrar com agentes de inteligência cubanos; e fez declarações falsas e enganosas para obter documentos de viagem.”
As autoridades dos EUA conseguiram desmascarar o espião através de um agente infiltrado do FBI, a polícia federal norte-americana. Ele se fez passar por um agente cubano e levou Rocha a confessar os serviços prestados ao regime comunista.
No diálogo com o agente infiltrado, o ex-diplomata se referiu a Cuba como “nós”, e aos EUA, como “os inimigos”. Ainda chamou o ex-líder cubano Fidel Castro de “comandante” e descreveu sua atuação como um “grand slam”, expressão possivelmente retirada do beisebol que batiza a mais eficiente jogada ofensiva da modalidade esportiva, paixão compartilhada por cubanos, colombianos e norte-americanos.