Governo da Colômbia usa Covid-19 para enfraquecer acordo de paz

Autoridades tentam acabar com benefícios concedidos a ex-combatentes das Farc, como a presença no Congresso

O governo da Colômbia teria usado a pandemia do coronavírus para evitar a implementação do acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em 2016. As informações são do jornal norte-americano The Washington Post.

A gestão de Iván Duque, crítica ao acordo, pediu que ex-comandantes das Farc abandonassem suas cadeiras no Congresso, ponto crucial do acordo. A pressão acontece mesmo diante do aumento de assassinatos desses ex-combatentes e de defensores humanos durante a quarentena.

Até 9 de maio, seis ex-combatentes e 32 defensores dos direitos humanos foram assassinados, de acordo com informações das Nações Unidas. Desde a assinatura do acordo, 198 ex-guerrilheiros foram mortos.

“Paz, mas não assim” tornou-se o slogan do partido de direita de Duque, o mesmo fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. Seus apoiadores defendem o desarme incondicional das Farc, sem proteção legal ou garantia de participação política.

Governo da Colômbia usa Covid-19 para enfraquecer acordo de paz
Presidente da Colômbia, Iván Duque (Foto: Cia Pak/UN Photo)

Acordo ameaçado

Para manter os benefícios legais, as Farc concordaram em devolver bens adquiridos de forma ilegal. No entanto, como foram desarmados, os ex-combatentes perderam o controle de muitos territórios em áreas violentas.

O prazo para a devolução dos bens, dado pelo governo de Duque, está previsto para 31 de julho. Como o prazo termina em meio à pandemia, há brechas para o descumprimento do acordo e perda dos benefícios concedidos aos ex-guerrilheiros.

Cientes de que os cartéis de droga e outros grupos criminosos ocupariam as áreas controladas pela guerrilha, os negociadores criaram iniciativas de segurança recusadas pelo atual governo.

O governo tenta ainda discutir a questão das plantações de coca. A prática havia sido encerrada pelo governo anterior por causa do uso de um produto considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como provável cancerígeno.

As autoridades colombianas pressionam por reuniões virtuais sobre o assunto, embora muitos envolvidos no processo não tenham acesso à internet ou computadores.

Fundos realocados

Os recursos que seriam originalmente destinado ao programa de paz vêm sendo usados para aumentar a presença de Duque nas mídias sociais e para fazer pesquisas sobre o desempenho de seu governo.

Recentemente, um porta-voz do partido do presidente propôs que o fundo do acordo de paz fosse usado no pacote de estímulo econômico, necessário para o enfrentamento à pandemia. O governo não se pronunciou sobre o assunto.

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