Ibama faz apreensão recorde de barbatanas de tubarão que seguiriam para a Ásia

Estima-se que cerca de 11 mil tubarões tenham sido mortos para se chegar às quase 30 toneladas descobertas recentemente

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) divulgou na segunda-feira (19) detalhes de uma mega operação que resultou na apreensão recorde de 28,7 toneladas de barbatanas de tubarão provenientes da pesca ilegal em duas empresas exportadoras no Brasil. Estima-se que cerca de 11 mil tubarões-azuis e tubarões-anequim foram mortos para obter uma quantidade tão expressiva das nadadeiras, consideradas uma iguaria de alto valor sobretudo no mercado da Ásia.

Dentre os produtos destinados à exportação ilegal para a Ásia, onde a sopa de barbatana é um prato sofisticado, a quantidade de 27,6 toneladas foi descoberta em uma única empresa em Santa Catarina, a qual foi autuada na segunda-feira. Em outra operação de busca realizada em maio, o Ibama flagrou 1,1 tonelada no Aeroporto de Guarulhos.

Segundo o Ibama, essa seria a maior apreensão em peso de barbatanas de tubarão pescadas ilegalmente em todo o mundo até o momento.

Barbatanas, consideradas uma iguaria na cozinha asiática, foram apreendidas na última semana (Foto ilustrativa: WikiCommons)

No Brasil, a pesca de tubarões é considerada ilegal. O Ibama revelou que as empresas estavam usando licenças para a pesca de diferentes espécies como forma de encobrir a caça ilegal de tubarões. Além disso, a agência acusou as empresas de causarem a morte de milhares de aves marinhas durante suas expedições.

A apreensão alertou para o impacto negativo na vida marinha. A pesca ocorreu em várias regiões costeiras do Brasil, principalmente na Região Sul. O Ibama investigou o comércio e a exportação dessas barbatanas, identificando um grande volume destinado ao mercado asiático, já que o consumo interno no Brasil é praticamente inexistente, segundo afirmou o diretor da Diretoria de Proteção Ambiental, Jair Schmitt.

“A partir desse alerta de grande comércio, nós começamos a investigar e verificar a origem, quais eram as empresas que estavam comercializando e onde essas empresas estavam adquirindo as embarcações. Fizemos toda a cadeia reversa de produção, onde foi possível constatar as irregularidades praticadas”, detalhou Schmitt. “Esse trabalho foi realizado por diversos servidores do Ibama da área de Inteligência, da área de Operações, principalmente aqueles especializados na fiscalização da pesca”, acrescentou.

De acordo com o Ibama, a prática indiscriminada e irregular de captura de tubarões tem levado a uma dramática diminuição de suas populações em todo o mundo. Diversas espécies, incluindo o tubarão anequim, recentemente adicionado à lista nacional de espécies ameaçadas de extinção em 22 de maio, estão sendo afetadas por essa situação preocupante.

Mercado clandestino

A pesca ilegal na América do Sul e e em outros países da América Latina tem sido fortemente criticada no mundo. A China, cujos pesqueiros são responsáveis pela maior fatia de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (da sigla em inglês IUU – illegal, unreported and unregulated fishing) em todo o mundo, afirma ter implementado novas políticas e regulamentações a fim de combater a prática.

Enquanto as ações da China não apresenta resultados práticos, países latinos vêm se esforçando para resolver o problema por conta própria, invariavelmente com o suporte dos Estados Unidos. Panamá, Equador, Chile, Peru, Costa Rica e Brasil apoiam o aumento da transparência e do monitoramento através de dados abertos.

Em apoio, o governo norte-americano forneceu aos países latino-americanos quase 50 barcos desde 2015. Além disso, Washington afirma que planeja enviar 15 equipes de treinamento para qualificar os profissionais que atuam no combate à pesca ilegal nas nações latinas.

O México é, desde 2016, um forte exportador de barbatanas de tubarão para China e Hong Kong, segundo a Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens). Elas rendem cerca de US$ 2 por quilograma aos mexicanos, e as barbatanas secas vendidas em Hong Kong chegam a custar até US$ 70 o quilograma.

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