Missão Multinacional da ONU no Haiti afasta gangues de porto e hospitais

Ao retornar de visita ao país, o presidente do Conselho Econômico e Social da ONU declarou que apesar destes avanços, grupos criminosos ainda controlam rodovias e partes de cidades como um “reino pessoal”

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

A Missão Multinacional de Apoio à Segurança que opera no Haiti desde junho está obtendo ganhos. A avaliação é do presidente recém-eleito do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc).

Bob Rae é embaixador do Canadá na ONU e acaba de retornar de uma visita à capital do país, Porto Príncipe. Ele disse que um dos avanços foi afastar as atividades de gangues de dois importantes hospitais e do principal porto da cidade.

Vista de um protesto de um veículo da Polícia Nacional do Haiti no centro de Porto Príncipe (Ocha/Giles Clarke)
Rotina de medo

Em entrevista para a ONU News, o diplomata afirmou que a violência das gangues continua a abalar o Haiti e que apesar de progressos que fazem com que a população esteja voltando a frequentar as ruas e mercados, o país “ainda não deu a volta por cima”.

Na visão de Rae, o grande anseio da população haitiana é a segurança. Ele enfatizou que muitas pessoas vivem com medo de que filhas sejam “estupradas atravessando a rua” ou “sequestradas por dinheiro”.

O presidente do Ecosoc declarou que as gangues tomaram conta de grandes partes da cidade, “queimaram casas, tomaram conta de grandes bairros e comandam partes da cidade como um reino pessoal”.

Ele enfatizou que “os líderes de gangues são brutais” e que “mais trabalho precisa ser feito” para reforçar o apoio à Polícia Nacional do Haiti.

Crise de deslocamento

Rae destacou ainda que em Porto Príncipe o problema do deslocamento é “enorme”, com cerca de meio milhão de pessoas que foram deslocadas pela violência e pela atividade de gangues.

O representante da ONU afirmou que deseja ver as crianças e jovens retornando para a escola, pois o ano letivo começa em outubro, no entanto, muitas escolas foram tomadas por pessoas que foram deslocadas.

Ao comentar uma reunião que teve com coronel da Missão Multinacional, Rae declarou que há um trabalho efetivo sendo realizado com a Polícia Nacional Haitiana. Para ele, a instituição é a “força-chave que precisa ser reforçada e receber o equipamento necessário para seguir adiante”.

Rodovias controladas por gangues

O presidente do Ecosoc disse que partes do aeroporto agora estão seguras, e os voos estão chegando na sequência da remoção da área de concentração das gangues.

No entanto, ele disse que ainda não foi possível proteger as principais rodovias. Para o especialista é preciso avançar mais na segurança em Porto Príncipe e “garantir que o resto do país permaneça relativamente seguro”.

Bob Rae realizou reuniões com o primeiro-ministro haitiano, Gary Conille, com o Conselho de Transição, demais autoridades, organizações de ajuda e com os próprios haitianos, que disseram que a segurança é sua principal prioridade.

Ele afirmou que “o Haiti ainda está realmente passando por dificuldades” e defendeu que a Missão Multinacional gere mais avanços no pouco tempo que resta “antes de uma possível eleição”. O estabelecimento de uma Comissão Eleitoral da ONU “vai ser essencial”, acrescentou.

Plano para o desenvolvimento

Para Rae, a transição da Missão Multinacional para uma Operação de Paz da ONU seria positiva, mas depende de aprovação do Conselho de Segurança.

Segundo ele, outro passo importante seria um plano do governo sobre “como seguir adiante no desenvolvimento” e nos campos econômico e social. O especialista afirmou ter tido discussões “muito boas” com o primeiro-ministro sobre isso.

Nesta terça-feira, o especialista de Direitos Humanos da ONU no Haiti, William O’Neill, inicia uma visita de 12 dias ao país, a primeira deste ano, depois de a anterior ter sido adiada devido aos elevados níveis de insegurança.

Ele se reunirá na capital, Porto Príncipe, com o presidente do Conselho Presidencial de Transição, Edgar Leblanc Fils, o primeiro-ministro, Gary Conille, e outros altos funcionários do governo e do estado.

O perito também manterá discussões com o representante especial do secretário-geral da ONU para o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, Binuh, seu adjunto, membros do corpo diplomático, representantes da sociedade civil, líderes religiosos e vítimas. Durante a sua missão, Fils se reunirá ainda com altos funcionários da Missão Multinacional de Apoio à Segurança no Haiti.

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