A nomeação de Tulsi Gabbard para liderar a inteligência dos Estados Unidos gerou forte reação na comunidade de segurança nacional e entre especialistas. Em entrevista à rede Euronews, o professor de política internacional na University College Dublin Scott Lucas alertou que a ex-congressista tem um histórico de repetir discursos alinhados aos interesses do Kremlin, o que levanta preocupações sobre o impacto de sua liderança em uma área estratégica do governo norte-americano.
Lucas afirmou que Gabbard, que assumirá o posto de diretora de inteligência nacional, tem uma longa história de repetição de desinformação russa, destacando que suas declarações seguem um padrão que favorece Moscou. Segundo o professor, retórica dela sobre a guerra na Ucrânia tem reforçado argumentos que minimizam a responsabilidade russa no conflito e ecoam versões apresentadas pelo Kremlin.
“Gabbard não é um ativo russo no sentido de que ela é comprada e paga pelos russos”, diz Lucas. “Gabbard está fazendo isso por causa de uma visão de mundo particular, que foi reforçada pela maneira como as mídias sociais e a desinformação que elas contêm consolidam essa visão de mundo, o que você poderia chamar vagamente de anti-imperialismo.”

A escolha de Gabbard, feita por Donald Trump, representa um movimento controverso dentro da inteligência dos EUA. A ex-deputada já havia sido criticada por sua postura em temas de política externa, incluindo uma visita à Síria em 2017, onde se encontrou com Bashar al-Assad, ditador acusado de crimes de guerra. Na época, sua viagem gerou protestos entre congressistas e diplomatas norte-americanos.
Nos últimos anos, Gabbard também se destacou por criticar abertamente o apoio dos EUA à Ucrânia e por adotar discursos que, segundo analistas, deslegitimam aliados de Washington. Sua indicação para um cargo de tamanha relevância levanta dúvidas sobre a possível mudança na abordagem norte-americana em relação à Rússia e outros adversários estratégicos.
“Os russos explorarão pessoas como ela. Eles a promoverão porque ela está dizendo coisas que ecoam suas linhas de propaganda”, afirma Lucas. “Ela não está pegando dinheiro; não é como se eles tivessem influência sobre ela para fazê-la agir assim, não que saibamos. Ela é um trunfo russo no sentido de que ela amplifica e reforça suas linhas de propaganda.”
Dentro da comunidade de inteligência, a preocupação se intensifica pelo fato de que o setor depende de confiança e alinhamento estratégico com os interesses de segurança nacional dos EUA. Críticos apontam que a presença de uma liderança com histórico de afinidade com discursos pró-Rússia pode afetar o trabalho de agências que lidam com ameaças externas.
A nomeação ainda precisa passar por confirmação, mas a polêmica em torno do histórico de Gabbard já alimenta debates sobre os rumos da inteligência americana sob uma eventual nova administração de Trump. O temor é o de que sua condução do setor possa levar a mudanças profundas na política externa dos EUA, especialmente na relação com a Otan (Organização do tratado do Atlântico Norte) e no apoio à Ucrânia.