O que esperar para a política externa dos EUA, com Trump ou Biden, a partir de 2021

Em um embate entre duas visões de mundo distintas, único ponto onde há acordo é sobre contenção da China

Os norte-americanos foram às urnas nesta terça (3) para escolher o novo presidente dos EUA. Estima-se que cerca de 100 milhões já haviam depositado seu voto de forma presencial ou pelo correio na manhã do pleito, opção facilitada pela pandemia do novo coronavírus.

De um lado, o republicano Donald Trump, que tenta a reeleição. De outro, o democrata e vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden. No pleito desta terça, está em jogo mais do que um embate partidário: é uma disputa de duas visões de mundo bastante distintas.

Na política externa não é diferente. Os dois candidatos oferecem soluções opostas em assuntos como comércio exterior, imigração e relacionamento com organizações multilaterais.

O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, discursa em escola de Des Moines, em Iowa, em fevereiro deste ano (Foto: Phil Roeder)

Saiba o que esperar dos dois postulantes ao cargo de presidente dos EUA nos temas que influenciam a relação da maior potência econômica do mundo com o exterior.

O futuro do multilateralismo

No âmbito das instituições multilaterais e estruturas das Nações Unidas, muitas das quais os EUA foram fundadores ou defensores de primeira hora, a abordagem é inteiramente distinta nas propostas republicanas e democratas.

Trump retirou os EUA do Acordo de Paris para o clima em 2017, anunciou que deixaria a OMS (Organização Mundial da Saúde) durante a pandemia e acusou essas instituições de forçarem Washington a “abrir mão de parte de sua soberania”.

Biden, por sua vez, defende maior cooperação com o sistema multilateral e com aliados históricos dos EUA. Entre suas prioridades como presidente estaria restabelecer a credibilidade do país junto a nações amigas, como a Alemanha.

Resposta latina

Na política externa para a América Latina, o foco de ambos é a Venezuela. Desde a última reeleição de Nicolás Maduro, em 2018 e após um pleito contestado, houve o êxodo de quatro milhões de seus compatriotas. O número representa um em cada dez venezuelanos.

Biden deve tomar uma posição menos agressiva em relação a políticas de imigração. Já afirmou que seu concorrente levou “uma bola de demolição” às relações com outros países da América e definiu suas políticas de imigração como “racistas” e “moralmente falidas”.

O democrata já sinalizou que seria preciso trabalhar com os países mais pobres para resolver as causas estruturais da imigração em massa.

Seria um contraponto ao approach de Trump, baseado no confronto contra “regimes comunistas e socialistas”. Entre os alvos dos ataques estão, além de Caracas, países como Cuba e Nicarágua.

O atual presidente também facilitou deportações, diminuiu acesso a políticas de asilo e refúgio para estrangeiros e alterou as exigências de vistos. A meta é diminuir ao máximo a entrada de imigrantes.

Outros desafios estão no radar do vencedor das eleições deste ano. A crise econômica argentina, a política ambiental brasileira e o avanço dos cartéis do tráfico de drogas contra o México devem pautar a relação com os gigantes latino-americanos.

Na América Central, cada vez mais empobrecida e violenta, o desafio é endereçar os problemas das gangues que tomaram Honduras, El Salvador e Guatemala. Secas cada vez mais graves também castigam a região, além da corrupção endêmica dos governos locais.

Donald Trump em encontro na Casa Branca, em 2019 (Foto: The White House/Flickr)

A migração em massa de cidadãos desses países, em muitos casos percorrendo o México de norte a sul a pé para chegar à fronteira do rio Grande, também não deve ceder.

Relações comerciais

No comércio, a proposta de Trump ao tomar posse em 2017 era a de modificar estruturas comerciais globais que considerava “injustas”. A meta, que deve permanecer em caso de reeleição, seria a de garantir os interesses dos EUA e a continuação da política de America First (ou América primeiro, em inglês).

Por meio desta orientação, afirma, seria possível diminuir déficits comerciais e garantir a manutenção de empregos industriais no país, que migraram para a Ásia em busca de custos mais baixos.

Biden, por sua vez, vê o fortalecimento do multilateralismo como condição fundamental para o futuro e para sua política externa. Entre suas propostas estão o estabelecimento de regras globais de comércio e diminuição do protecionismo para aumentar o trânsito de mercadorias em todo o mundo.

Para o candidato democrata, a imposição de tarifas adicionais para inviabilizar importações aos EUA é contraproducente.

É também no comércio onde se desenrola uma parte relevante a disputa de Washington contra a China, principal potência asiática hoje. Aí reside um dos principais –e únicos– pontos de convergência entre os candidatos, que reconhecem o país como uma ameaça.

A diferença está na forma de alcançar o objetivo. Trump prefere bater de frente com Beijing para impulsionar sua responsabilização contra questões que vão de manipulação cambial, violações e roubo de propriedade intelectual a espionagem e exportação de subsídios.

Já Biden opta pela união com aliados históricos para exercer pressão mais forte sobre o governo Xi Jinping.

A escolha do novo presidente dos EUA pode durar dias ou até semanas, e pode gerar confronto entre eleitores. Entre os estados fundamentais para decidir a eleição estão Ohio, Pensilvânia, Carolina do Norte e Michigan.

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