Organismos internacionais e governos, entre eles o Brasil, condenam ‘tentativa de golpe’ na Bolívia

Soldados e tanques tentaram invadir o palácio presidencial, em La Paz, após o governo destituir um general do comando das tropas federais

Tanques de guerra e soldados das Forças Armadas da Bolívia tentaram invadir na quarta-feira (26) o palácio presidencial em La Paz, na tentativa de destituir do comando do país o presidente Luis Arce. O levante foi classificado pelo governo local, por organismos internacionais e nações estrangeiras como uma golpe de Estado fracassado, recebendo condenação generalizada.

O governo brasileiro se manifestou sobre o episódio e o classificou como “tentativa de golpe”. O Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado no qual manifesta “apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos”, dizendo ainda que a ação envolveu “mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país.”

No texto, a pasta afirmou também que seguirá em contato com as nações sul-americanas para rechaçar a “grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região.” E acrescentou que atos antidemocráticos como este são “incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o Mercosul.”

Luis Arce, presidente da Bolívi (Foto: Plurinational Legislative Assembly/WikiCommons)

O presidente Lula também falou, usando para tanto sua conta na rede social X, antigo Twitter. “A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão, presidido por Luis Arce.”

Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), falou pela mesma rede social. Segundo ele, o bloco “condena qualquer tentativa de minar a ordem constitucional na Bolívia e de derrubar governos democraticamente eleitos e manifesta a sua solidariedade para com o governo e o povo bolivianos.”

A presidente da Comissão Europeia, Urusla von der Leyen, igualmente se pronunciou. “Condeno firmemente as tentativas de derrubar o governo democraticamente eleito da Bolívia. A União Europeia apoia as democracias. Expressamos o nosso forte apoio à ordem constitucional e ao Estado de Direito na Bolívia.”

Outra manifestação de apoio ao presidente boliviano partiu de Luis Almagro, chefe da Organização dos Estados Americanos (OEA), que chamou de “golpe fracassado” a ação dos militares. Ele pediu a “aplicação dos valores democráticos e o apoio ao governo democrático constitucional e legitimamente eleito pela vontade soberana do povo da Bolívia.” E acrescentou: “Para a democracia, tudo. Para a força, nada.”

Citado pelo site Barrons, o governo norte-americano disse apenas que está “monitorando de perto a situação na Bolívia e pede calma”, segundo um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

A ação dos militares bolivianos foi igualmente condenada por governos de esquerda aliados a Arce, citados pela agência Reuters.

Nicolás Maduro, da Venezuela, convocou “o povo da Bolívia para defender sua democracia, sua constituição e seu presidente.” Já o cubano Miguel Diaz-Canel disse “repudiar a tentativa de golpe de Estado em curso, estendemos toda a solidariedade do governo e do povo cubano ao nosso irmão Luis Arce.”

General preso

Após o levante militar, as autoridades bolivianas detiveram o general Juan José Zúñiga, acusado de liderar os soldados rebeldes. De acordo com a rede BBC, ele afirmou que planejava “reestruturar a democracia” e que, embora respeitasse Luis Arce “por enquanto”, era necessária uma mudança de governo.

A tentativa de golpe surge em um momento delicado na Bolívia, que enfrenta profunda crise econômica e se prepara para as eleições presidenciais de 2025. Arce pode ter como adversário o ex-presidente Evo Morales, um aliado histórico, que planeja voltar ao poder após ser deposto em meio a protestos populares em 2019.

A própria queda de Morales, que colocou temporariamente no poder Jeanine Áñez, foi classificada pela esquerda boliviana como um golpe. A situação só se acalmou com a vitória de Arce no pleito de 2020, e agora mesmo a antecessora condena a ação militar liderada por Zúñiga.

“Repúdio total à mobilização dos militares na Praça Murillo na tentativa de destruir a ordem constitucional”, disse Áñez no X, acrescentando que Arce e Morales devem ser derrotados nas urnas, não com as armas. “Nós, bolivianos, defenderemos a democracia”, concluiu.

Foi justamente a perspectiva de ter Morales novamente no poder que levou Zúñiga a confrontar o atual presidente antes do golpe, de acordo com a agência Reuters. Ele teria ameaçado se erguer contra a candidatura, afirmando se tratar de uma afronta à Constituição. Foi, então, demitido e posteriormente liderou o levante.

O golpe foi definitivamente contido após o general José Wilson Sanchez, escolhido pelo presidente para substituir Zúñiga, ordenar aos soldados que retornassem às suas unidades. “Pedimos que o sangue dos nossos soldados não seja derramado”, disse ele.

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