Passadas mais de duas semanas depois que o presidente venezuelano Nicolás Maduro proclamou sua vitória na reeleição, em meio a indícios de fraude, os EUA e outros países ocidentais, apesar do ceticismo com o resultado, têm mostrado pouca disposição para agir rapidamente e de forma contundente. As informações são da agência Reuters.
Apesar de ter anunciado a vitória na eleição no mês passado, o atual presidente, que esperava iniciar um novo mandato de seis anos, sofreu duros golpes desde então. O mais forte veio de Washington, que anunciou publicamente o reconhecimento de que o opositor Edmundo González Urrutia é o verdadeiro vencedor. Porém, mesmo aliados do regime hesitam em reconhecer o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A maioria dos governos democráticos exigiu que o CNE da Venezuela publicasse todas as folhas de contagem de votos. Enquanto isso, o Brasil e outros países estão tentando mediar negociações entre as partes, que têm uma longa história de desentendimentos. A oposição venezuelana chamou o anúncio do CNE de fraudulento e prometeu contestar o resultado. Eles afirmaram que seu candidato venceu com 70% dos votos e insistiram que ele é o verdadeiro presidente eleito.

Os protestos contra Maduro após a votação foram reprimidos, resultando na morte de 23 pessoas e na prisão de cerca de 2.400, de acordo com os dados mais recentes da ONU (Organização das Nações Unidas). Os governos ocidentais estão procedendo com cautela e nenhum está disposto a agir por conta própria, revelou um funcionário da embaixada que preferiu não se identificar.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que o objetivo não é apenas fazer demandas vazias, mas “ser eficaz no apoio à democracia na Venezuela”.
Na segunda-feira (12), o chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, solicitou a divulgação dos registros de votação, o término da perseguição política e o início de um diálogo entre os opositores. No entanto, o bloco não anunciou nenhuma medida específica.
A resposta cautelosa é influenciada pela experiência de 2018, quando a reeleição de Maduro foi rejeitada como fraudulenta, resultando em sanções severas e na tentativa de um governo interino da oposição que acabou falhando, fortalecendo Maduro no poder.
Durante o governo de Donald Trump, os EUA impuseram sanções que bloquearam todas as exportações de petróleo da Venezuela, visando enfraquecer o controle de Maduro sobre o país. A medida tinha o objetivo de forçar o líder autoritário a renunciar, mas, apesar das sanções, que causaram grande sofrimento econômico a muitos venezuelanos, Maduro conseguiu manter seu poder.
Segundo fontes a par do pensamento de Washington, autoridades dos EUA têm se comunicado com parceiros regionais e internacionais para coordenar uma resposta conjunta. Embora Washington tenha reconhecido Gonzalez como o vencedor, evita chamá-lo de presidente eleito.
Na segunda-feira, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, afirmou: “Agora é o momento para que as partes venezuelanas comecem discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica”.
Autoridades dos EUA temem que a instabilidade na Venezuela leve a um aumento no número de venezuelanos migrando para a fronteira EUA-México, o que poderia complicar a campanha presidencial da vice-presidente Kamala Harris devido à controvérsia em torno da imigração.
A Organização dos Estados Americanos (OEA), com sede em Washington, não conseguiu alcançar um consenso sobre uma resposta conjunta, apesar de seu órgão de observação eleitoral ter destacado “ilegalidades, falhas e más práticas” durante a eleição.
Brasil, Colômbia e México emitem declaração conjunta
Os presidentes do Brasil, México e Colômbia estão coordenando esforços para obter acesso completo aos registros de votação. No dia 7 de agosto, os ministros dos três países, a convite de seus líderes, se reuniram virtualmente para discutir a situação na Venezuela.
Embora o presidente Lula seja um aliado histórico de Maduro, nas últimas semanas os dois entraram em choque, com o líder venezuelano contestando inclusive a vitória do brasileiro nas eleições presidenciais de 2022.
Apesar disso, em um comunicado publicado pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro, os países destacaram a importância de o CNE apresentar os resultados das eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, detalhados por mesa de votação. Eles observaram a ação movida no Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) sobre o processo eleitoral e afirmaram que o CNE, por mandato legal, deve garantir a divulgação transparente dos resultados eleitorais.
Os países também reafirmaram a importância de permitir uma verificação imparcial dos resultados, respeitando o princípio da soberania popular. Além disso, solicitaram que os atores políticos e sociais da Venezuela “ajam com máxima cautela e moderação em suas manifestações e eventos públicos”, e pediram às forças de segurança que “assegurem o pleno exercício dos direitos democráticos dentro dos limites legais”. Enfatizaram que o respeito aos Direitos Humanos “deve ser mantido em todas as circunstâncias”.
Os três países reafirmaram seu respeito pela soberania e vontade do povo venezuelano e anunciaram que continuarão as conversas de alto nível. Eles destacaram a crença de que as soluções para a situação atual devem vir da Venezuela e reiteraram “seu apoio aos esforços de diálogo para promover a estabilidade política e a democracia no país”.