O futuro de Nicolás Maduro no comando da Venezuela está em xeque. Apesar de ter anunciado a vitória na eleição do último final de semana, o atual presidente, que esperava iniciar um novo mandato de seis anos, sofreu duros golpes desde então. O mais forte veio dos EUA, que anunciaram publicamente o reconhecimento de que o opositor Edmundo González Urrutia é o verdadeiro vencedor. Porém, mesmo aliados do regime hesitam em reconhecer o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Na segunda-feira (29), Maduro celebrou a vitória destacando os números divulgados pelo CNE, segundo o qual ele obteve 51% dos votos nas eleições nacionais. Porém, a oposição classificou o anúncio como fraudulento e contestou o resultado, afirmando que na verdade foi Urrutia quem venceu a eleição, com 70% dos votos.
“Dadas as evidências esmagadoras, está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia obteve a maioria dos votos nas eleições presidenciais da Venezuela em 28 de julho”, disse o Departamento de Estado norte-americano na quinta-feira (1º), em comunicado publicado em seu site oficial e assinado pelo secretário Antony Blinken.
O texto ainda sugere que seja iniciado o processo de transição no poder, respeitando-se assim “a lei eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano.” O comunicado finaliza: “Apoiamos totalmente o processo de restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e estamos prontos para considerar maneiras de reforçá-lo em conjunto com nossos parceiros internacionais.”
O resultado foi igualmente contestado por analistas. “Como a missão de observação independente do Carter Center relatou, a falha do CNE em fornecer os resultados oficiais em nível de distrito, bem como irregularidades ao longo do processo, tiraram qualquer credibilidade do resultado anunciado pelo CNE”, diz o comunicado do Departamento de Estado.
Jason Marczak, especializado em questões latino-americanas do think tank Atlantic Counc, destacou que mesmo a Colômbia, cujo presidente Gustavo Petro mantém “relacionamento próximo com Maduro”, fez um apelo, através do ministro das Relações Exteriores Luis Gilberto Murillo, para que “a contagem total dos votos, sua verificação e auditoria independente sejam realizadas o mais rápido possível.”
O Brasil se soma à Colômbia na pressão. Embora o presidente Lula seja um aliado histórico de Maduro, nas últimas semanas os dois entraram em choque, com o líder venezuelano contestando inclusive a vitória do brasileiro nas eleições presidenciais de 2022.
Desde a divulgação dos números pelo CNE venezuelano, Brasil e Colômbia, junto com o governo do México, têm mantido contato com Caracas para que os detalhes da votação sejam revelados e assim verificados por entidades independentes.
Nesse sentido, os três países divulgaram na quinta um comunicado conjunto. “As controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional. O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados”, diz o texto.
O comunicado ainda pede comedimento às partes, na esteira dos protestos que eclodiram no país e foram violentamente reprimidos pelas autoridades, com relatos de ao menos 11 mortos. “Nesse contexto, fazemos um chamado aos atores políticos e sociais a exercerem a máxima cautela e contenção em suas manifestações e eventos públicos, a fim de evitar uma escalada de episódios violentos.”