A Petrobras assinou um acordo estratégico com a estatal indiana Bharat Petroleum Corporation para a exportação de seis milhões de barris de petróleo por ano entre 2025 e 2026. O anúncio foi feito durante o Fórum Brasil de Energia, no Rio de Janeiro, pelo diretor de logística, comercialização e mercados da companhia, Claudio Romeo Schlosser. Dez dias depois, ele viajou à Índia, onde finalizou a assinatura do contrato em 12 de fevereiro. As informações são da Deutsche Welle.
Atualmente, a China é o principal destino das exportações de petróleo da Petrobras, mas a empresa busca diversificar sua carteira de clientes. “Estamos ampliando nossa base internacional”, declarou Schlosser. A ambição da Petrobras é elevar suas exportações para a Índia para 24 milhões de barris anuais.
A Bharat Petroleum, uma das maiores refinarias da Índia, desempenha um papel crucial na segurança energética do país, que depende de importações para cerca de 85% de seu consumo. O novo contrato fortalece o comércio bilateral entre Brasil e Índia, dois membros do BRICS, grupo que também inclui China, Rússia e África do Sul.

Crescimento do comércio latino-americano com a Índia
O movimento da Petrobras acompanha um padrão crescente de integração entre a Índia e a América Latina. A Argentina, por exemplo, assinou recentemente um contrato para exportar até 10 milhões de toneladas anuais de gás natural liquefeito (GNL) para três empresas indianas. O acordo também abrange a cooperação em lítio, minerais estratégicos e exploração de hidrocarbonetos.
De acordo com o CEO da petrolífera argentina YPF, Horacio Marin, o mercado asiático é fundamental para o futuro energético do país. “Estamos convencidos de que a Argentina tem potencial para se tornar uma grande exportadora de energia, gerando US$ 30 bilhões em receitas na próxima década”, afirmou.
A estratégia geopolítica indiana
A crescente presença da Índia na América Latina faz parte de uma estratégia maior de expansão comercial e diplomática. Tradicionalmente caracterizada pelo “não alinhamento”, a política externa indiana tem evoluído para o conceito de “autonomia estratégica”, segundo Sabrina Olivera, do Conselho Argentino de Relações Internacionais (CARI). “A Índia busca ampliar ao máximo seus relacionamentos sem firmar alianças formais”, explicou a especialista.
Nos últimos anos, o governo indiano tem fortalecido sua influência na região, com iniciativas como o envio de ajuda humanitária a Cuba e o aprofundamento de relações comerciais com o Chile. No país sul-americano, o embaixador indiano Abhilasha Joshi declarou recentemente que Santiago pode ser uma “porta de entrada” para a América Latina.
A investida da Índia na região se reflete nos números do comércio bilateral. Em 2023, os negócios entre a Índia e a América Latina movimentaram US$ 40 bilhões, com Brasil, México, Argentina, Colômbia e Peru entre os principais parceiros. Apesar desse crescimento expressivo de 145% na última década, a China ainda lidera com folga o comércio com a região, movimentando US$ 480 bilhões.
Olivera destaca que a Índia tem plena consciência de suas limitações em relação a Beijing, tanto em termos econômicos quanto militares. No entanto, o país aposta no diferencial de sua democracia para conquistar mais espaço no mercado latino-americano. “A Índia é vista com mais confiança na região do que a China”, concluiu.