A busca por segundos passaportes deixou de ser um privilégio de viagem e se tornou parte de estratégias de planejamento financeiro e sucessório de americanos ricos. Segundo consultores, cresce o interesse por América Latina e Ásia, que oferecem programas mais acessíveis e flexíveis do que os tradicionais destinos europeus. As informações são do Business Insider.
Durante anos, Portugal, Malta e Grécia dominaram o mercado, atraindo milionários com benefícios fiscais e vistos dourados. Mas o cenário mudou: regimes tributários mais rígidos, limites de investimento elevados e o fim de alguns programas reduziram o apelo europeu.

Andrew Henderson, fundador da consultoria Nomad Capitalist, explicou à reportagem:
“A América Latina viu o aumento mais drástico. Em comparação aos níveis anteriores a 2020, os atendimentos praticamente dobraram. Uruguai, Panamá e agora Argentina lideram o movimento.”
Segundo Henderson, cerca de 10% dos clientes da empresa hoje estão ligados a programas latino-americanos.
Costa Rica registra alta de 660%
Um dos destaques do ano é a Costa Rica, que rapidamente se tornou o quarto programa mais popular entre americanos, de acordo com dados da Henley & Partners.
Os pedidos cresceram 660% em 2025 em relação ao ano anterior. Mesmo partindo de uma base baixa em 2024, quando o programa foi lançado, a demanda explodiu.
Michel Soler, diretor da Henley & Partners para a América Latina, destacou os atrativos:
“A Costa Rica preenche todos os requisitos: exigências mais baixas que a Europa, benefícios fiscais, segurança e um estilo de vida que muitos descrevem como Pura Vida”.
A Costa Rica oferece diferentes caminhos para quem busca residência no país. O primeiro é a rota do investidor, que exige um aporte a partir de US$ 150 mil em ativos qualificados, como imóveis. Outra opção é o programa Rentista, destinado a quem pode comprovar renda passiva de pelo menos US$ 2.500 por mês durante dois anos ou realizar um depósito bancário local de US$ 60 mil. Já o programa Pensionado é voltado a aposentados, com a exigência mínima de US$ 1.000 mensais provenientes de pensão.
Steve Corbin, diretor de operações caribenhas do Harvey Law Group, explicou que, ao contrário da Europa e do Caribe, onde muitos tratam a cidadania como “plano B”, na América Latina os americanos buscam realmente se mudar.
“Na Ásia e na América Latina, os candidatos costumam dizer: ‘Quero me mudar nos próximos seis meses ou mais’”, afirmou.
Tailândia e Malásia atraem milionários
Embora em menor escala, a Ásia também se fortalece. De acordo com Henderson, países como Tailândia, Singapura e Camboja já representam de 3% a 7% da demanda anual da Nomad Capitalist.
Um exemplo é Jerry Massey, locutor esportivo da Virgínia, que já possui cidadania dominicana por meio de um programa de investimento de US$ 100 mil, mas agora planeja se mudar para Kuala Lumpur, na Malásia.
“Gosto das pessoas, da comida e da qualidade de vida”, disse ao Business Insider. “Sinto-me mais seguro em uma estação de metrô da Malásia depois da meia-noite do que em Washington, D.C.”
Segundo ele, Kuala Lumpur oferece saúde de nível mundial, médicos altamente capacitados, tecnologia de ponta e custo de vida bem inferior ao americano.
“Você pode jantar fora gastando uma fração do que pagaria no Ocidente”, acrescentou.
O novo normal: passaportes múltiplos, opções múltiplas
A decisão de Massey reflete uma tendência crescente: diversificação.
Para alguns, trata-se de impostos mais baixos e proteção patrimonial. Para outros, de segurança e estilo de vida. E, para muitos, de garantir que os filhos herdem não apenas riqueza, mas também mobilidade global.
“Os clientes agora querem um Plano C sólido, como camada extra de segurança além dos passaportes e residências que já possuem”, explicou Henderson.
Corbin confirmou que cresce o número de casos em que americanos combinam programas distintos, como passaporte caribenho alternativo com residência na Europa ou Ásia, onde realmente pretendem viver.
Soler resume essa lógica como uma estratégia de portfólio:
“Não se trata mais apenas de viajar. Trata-se de planejar a riqueza para a próxima geração.”