por Anna Rangel
O prejuízo de marca causado por congressistas e candidatos que defenderam a invasão do Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, no último dia 6, ficou alto demais para algumas empresas com presença forte no financiamento de campanhas.
Desde o caos em Washington, quando apoiadores do presidente Donald Trump invadiram o Congresso, o número de organizações que pausaram os cortaram recursos para campanhas vem crescendo.
Nos EUA, a maior parte do financiamento de campanha vem de atores privados – empresas e pessoas físicas. Uma parcela pequena de recursos públicos é oferecida a candidatos à Presidência nas primárias partidárias e na eleição geral.
É possível doar direto para o candidato, o chamado hard money, por meio dos PACs (Comitês de Ação Política, em inglês), e para o partido ou para comitês sem relação formal com os postulantes – o soft money.
O segundo tem crescido em espaço usando uma brecha na lei eleitoral que não impõe limites a doações para “o desenvolvimento do partido”. Neste caso, a doação pode ser usada para publicidade de uma causa específica, da plataforma partidária ou contra um candidato – mas não a favor.
Quem gerencia a maior parte desses fundos para “causas” são os Super PACs. Essas organizações, em geral, não pagam impostos e podem ter orientação ideológica, setorial ou de defesa de uma categoria laboral.
A partir de 2010, surge o dark money, com origem desconhecida e cuja doação foi liberada pela Suprema Corte naquele ano. Desde então, foram enviados cerca de US$ 1 bilhão a candidatos, segundo cálculos do Open Secrets, entidade que monitora gastos eleitorais e ações de lobby no Congresso dos EUA.
Nas eleições deste ano, os candidatos tiveram verbas da ordem de US$ 11 bilhões, ante US$ 6,5 bilhões no pleito de 2016. A estimativa também é da Open Secrets, baseada em Washington.
A Referência compilou as principais organizações que limitaram doações diretas para os candidatos, ou seja, via PACs. Os posicionamentos dessas empresas não necessariamente contemplam o financiamento para causas e agendas favoráveis a seus interesses.
Quem fechou o cofre
No setor de tecnologia, Google, Facebook e Microsoft já anunciaram que vão “pausar” gastos com candidatos. A gigante de telecomunicações AT&T foi mais longe: cortou contribuições a candidatos envolvidos na tentativa de inviabilizar a certificação do eleito Joe Biden com a invasão do dia 6.
O fundo PAC dos funcionários da petroleira BP (British Petroleum) anunciou uma pausa de seis meses nos financiamentos. Após esse prazo, irá “reavaliar seus critérios para apoiar candidatos”, segundo o Axios.
A petroquímica Dow não vai fazer doações aos envolvidos na tentativa de impedir a certificação de Biden pelos próximos dois anos para ocupantes da Câmara e seis anos para o Senado – totalizando um ciclo eleitoral. A informação é da Bloomberg.
Entre os bancos, J.P. Morgan Chase e Citigroup adiantaram mudanças. O primeiro paralisou doações para os dois partidos por seis meses, enquanto o segundo do financiamento vai se abster durante o primeiro trimestre.
Na sequência, informou o Citi, “não irá apoiar candidatos que não respeitam o Estado de Direito”. O Goldman Sachs também paralisou envios e vai fazer uma “completa revisão de como as pessoas agiram durante esse período”, segundo o diário norte-americano “The New York Times“.
A mesma política será adotada pela gestora BlackRock: pausa nas doações, “revisão dos eventos e reavaliação de como vamos focar nossa atividade política daqui para frente”, diz memorando ao qual o Axios teve acesso.
No setor hoteleiro, o grupo Marriott se posicionou dizendo que “pausará” doações” a quem apoiou a tentativa de bloqueio da certificação de Biden. O Airbnb também prometeu interromper as doações pelo mesmo motivo.
Outras empresas que prometeram uma suspensão temporária ou reavaliação das doações são Deloitte, Ford, Coca-Cola, FedEx, ExxonMobil, American Express, Comcast e Berkshire Hathaway.