Rússia possui tecnologia aeroespacial ‘preocupante’ e com capacidade nuclear, diz Washington

Segundo os EUA, sistema não está operante e não ameaça a vida humana, mas garantiria vantagem estratégica em uma guerra

O governo norte-americano confirmou oficialmente, na quinta-feira (15), uma informação que havia vazado no dia anterior: a Rússia possui uma nova e “preocupante” tecnologia aeroespacial com capacidade nuclear, que pode ser usada com fins militares para assegurar vantagem estratégica em caso de guerra. As informações são da rede CBS News.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse apenas que se trata de uma tecnologia antissatélite, sem ir além nos esclarecimentos. A Casa Branca, que mantinha a questão sob sigilo, foi forçada a abrir o jogo depois que o deputado republicano Mike Turner, chefe do Comitê de Inteligência da Câmara, fez a revelação na quarta-feira (14).

“Esta não é uma capacidade ativa que tenha sido implantada. E, embora a busca desta capacidade específica pela Rússia seja preocupante, não há ameaça imediata à segurança de ninguém”, disse Kirby. “Não estamos falando de uma arma que possa ser usada para atacar seres humanos ou causar destruição física aqui na Terra.” 

A existência da tecnologia era de conhecimento da inteligência norte-americana e foi compartilhada com a cúpula do governo na semana anterior. Turner, então, lançou em público um alerta vago na quarta, pressionando o governo Biden a derrubar o sigilo em torno da questão. Imediatamente após a revelação, a dúvida que surgiu é se tal tecnologia tem ou não capacidade nuclear.

Imagem de satélite do Extremo Oriente Russo e da Península Coreana (Foto: Stuart Rankin/Flickr)

De acordo com o porta-voz, o artefato viola o Tratado Internacional do Espaço Exterior, assinado por mais de 130 países, inclusive pela Rússia. Entre outras coisas, o acordo proíbe a implantação de “armas nucleares ou quaisquer outros tipos de armas de destruição em massa” em órbita ou “estações de armas no espaço sideral de qualquer outra forma.”

Autoridades norte-americanas com conhecimento da questão, ouvidas pela CBS News, foram mais diretas e confirmaram que a tecnologia tem sim capacidade nuclear. Mas concordaram com Kirby que o objetivo não é atingir pessoas, e sim afetar os sistemas de comunicação do inimigo no espaço, algo que asseguraria a Moscou uma vantagem estratégica em um eventual conflito.

Democratas x republicanos

Inserido no contexto da bipolarização política dos EUA, o debate em torno da nova capacidade russa gerou uma troca de acusações entre os dois grandes partidos políticos locais. De seu lado, os democratas acusaram Turner de causar pânico desnecessário, criticando a decisão dele de levar o caso às redes sociais.

“Esta não é uma ameaça para hoje, amanhã, a próxima semana ou o próximo mês”, disse o deputado Jim Himes, segundo quem o debate deveria, ao menos em um primeiro momento, se restringir ao Congresso.

Kirby concordou com o ponto de vista. “Tomamos decisões sobre como e quando divulgar publicamente a inteligência de uma forma cuidadosa, deliberada e estratégica, da forma que escolhemos”, disse o porta-voz. “Posso assegurar que continuaremos a manter os membros do Congresso, bem como nossos parceiros internacionais, todos vocês e o povo americano, tão plenamente informados quanto possível.”

Já os republicanos insistiram no argumento de que a ameaça deveria ter vindo a público mais cedo. “Esta revelação do presidente foi feita com um desprezo imprudente pelas implicações e consequências que as informações teriam sobre a geopolítica, os mercados internos e externos, ou o bem-estar e a psique do povo americano”, disse o deputado Andy Ogles.

Ele ainda alegou que a informação foi usada estrategicamente pelos democratas para pressionar os republicanos a aprovarem um pacote de ajuda financeira à Ucrânia. Curiosamente, foi esse o argumento usado por Moscou ao minimizar os riscos da nova tecnologia.

“É óbvio que Washington está tentando forçar o Congresso a votar o projeto de lei de ajuda, por bem ou por mal”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em comentários divulgados por agências de notícias russas.

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