Pyongyang diz que usou satélite para espionar a Casa Branca e instalações militares dos EUA

Autenticidade das fotografias não foi verificada, e permanece incerto se o Malligyong-1 opera conforme alega a Coreia do Norte

Coreia do Norte alega que seu satélite espião recém-lançado capturou imagens detalhadas da Casa Branca, do Pentágono e de porta-aviões nucleares dos EUA. No entanto, a autenticidade das imagens não foi verificada independentemente, e especialistas alertam que é prematuro concluir se o Malligyong-1 está operando corretamente após uma semana em órbita. As informações são do jornal The Guardian.

Nesta terça-feira (28), a agência de notícias estatal KCNA anunciou que o líder Kim Jong-un, que testemunhou o lançamento do satélite, viu imagens do local de trabalho do presidente norte-americano Joe Biden e da sede do Departamento de Defesa, tiradas na noite de segunda-feira (27). Além disso, o artefato espião teria registrado fotografias de uma base naval, um estaleiro e um campo de aviação na Virgínia, incluindo quatro porta-aviões nucleares dos EUA e um porta-aviões britânico.

Pyongyang quer tirar o máximo proveito do lançamento do satélite para fazer propaganda, gerando reações críticas imediatas de Washington e aumentando as tensões na fronteira entre as Coreias, que é altamente militarizada, observou a reportagem.

Imagem de satélite do Extremo Oriente Russo e da Península Coreana (Foto: Stuart Rankin/Flickr)

Os rivais sulistas também teriam sido alvo de espionagem. O governo norte-coreano alegou que seu satélite capturou imagens de instalações militares na Coreia do Sul, assim como de Guam e do Havaí, nos Estados Unidos. No entanto, as imagens não foram divulgadas. Oficiais militares sul-coreanos acreditam que o Malligyong-1 entrou em órbita, mas ainda não confirmaram sua capacidade de capturar e enviar imagens do espaço.

Na metade do ano, o ditador norte-coreano afirmou que a aquisição de um satélite de espionagem é crucial para fortalecer a defesa do país, à medida que os “imperialistas dos EUA e os fantoches vilões” sul-coreanos intensificam suas ações provocativas contra a Coreia do Norte, relatou a KCNA. Além disso, o lançamento ocorreu após a visita de Kim à Rússia em setembro, sugerindo uma melhoria nas relações bilaterais, incluindo no setor de defesa.

A ação de Pyongyang recebeu condenações de Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, sendo considerada uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) que proíbem o país de realizar qualquer lançamento envolvendo tecnologias balísticas.

“A República Popular Democrática da Coreia (RPDC) deixou claras as suas motivações”, disse a embaixadora de Washington na ONU (Organização das Nações Unidas), Linda Thomas-Greenfield, ao Conselho, tratando a Coreia do Norte por sua nomenclatura oficial.

“A RPDC está a tentar descaradamente fazer avançar os seus sistemas de lançamento de armas nucleares, testando tecnologia de mísseis balísticos, em clara violação das resoluções deste Conselho”, detalhou ela, acrescentando que se trata de um comportamento ilegal e imprudente, que ameaça todos os vizinhos e os Estados-Membros das Nações Unidas.

Após o lançamento do satélite, Seul anunciou a suspensão “parcial” do acordo intercoreano de redução da tensão militar firmado em 2018 com a Coreia do Norte.

O pacto assinado entre Seul e Pyongyang visa a reduzir a tensão militar na Península Coreana, estabelecendo medidas para evitar confrontos armados e promover a confiança mútua entre os dois países. Entre as ações acordadas estavam a criação de zonas de exclusão aérea, a desmilitarização de áreas-chave na fronteira e a suspensão de exercícios militares conjuntos.

Por que isso importa?

A movimentação militar de Pyongyang aumenta a tensão na região, já que o país tem encarado a Coreia do Sul e as demais nações ocidentais como “inimigas”. O regime comunista afirma que não há “necessidade de se sentar frente a frente com as autoridades sul-coreanas e não há questões a serem discutidas com eles”. Isso inclui a questão nuclear.

Ao lado de EUA e Japão, os sul-coreanos têm pressionado Pyongyang a evitar a proliferação de armas nucleares e cooperar para manter a paz e a estabilidade na Península. As negociações para desnuclearização do país, porém, estão travadas desde 2019.

A Coreia do Norte quer que os EUA e aliados suspendam as sanções econômicas impostas a seu programa de armas. Até agora, o presidente Kim Jong-un refutou as tentativas de aproximação diplomática de Biden. A Casa Branca, por sua vez, diz que não fará concessões para que Pyongyang volte às negociações.

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