Um dos suspeitos acusados de operar uma delegacia secreta chinesa em Nova York confessou sua participação no esquema. Chen Jinping declarou-se culpado, na quarta-feira (18), por conspirar para atuar como agente de um governo estrangeiro, em violação à Lei de Espionagem dos Estados Unidos. Ele será sentenciado em 30 de maio de 2025, segundo a rede ABC News.
Chen e outro acusado, Lu Jianwang, foram denunciados no ano passado por supostamente trabalharem para o Ministério de Segurança Pública da China. Enquanto Chen admitiu seu envolvimento, Lu declarou-se inocente e aguarda julgamento.
Segundo os promotores federais, a suposta delegacia secreta funcionava no bairro de Chinatown, em Manhattan, sob a fachada de uma organização sem fins lucrativos que ajudava a comunidade sino-americana. No entanto, as autoridades afirmam que a verdadeira finalidade do local era intimidar dissidentes chineses que vivem nos Estados Unidos.

“O esquema fazia parte de um esforço de repressão transnacional para monitorar, ameaçar e assediar cidadãos que buscaram refúgio nos Estados Unidos contra atividades autoritárias”, afirmou Breon Peace, procurador dos EUA no distrito leste de Nova York.
Para o FBI, o caso reflete as “audaciosas atividades” da China em solo norte-americano. As investigações apontam que a instalação foi montada por operativos chineses de contra-inteligência, que tinham como objetivo coagir e silenciar críticos do regime.
“Hoje, um participante de um esquema de repressão transnacional que trabalhou para estabelecer uma delegacia policial secreta no meio da cidade de Nova York, em nome da força policial nacional da República Popular da China, declarou-se culpado de conspiração para atuar como agente ilegal”, disse Peace.
A sentença de Chen Jinping poderá trazer um desfecho significativo para uma investigação que expôs as táticas do governo chinês para monitorar e pressionar seus críticos fora de suas fronteiras.
Expansão global de delegacias clandestinas chinesas
A operação clandestina em Nova York é parte de uma rede global de supostas delegacias chinesas, algumas delas já denunciadas em outros países. O caso evidencia o alcance das atividades de repressão do regime de Beijing e reforça os desafios enfrentados por governos democráticos para proteger seus cidadãos e residentes.
Segundo a ONG Safeguard Defenders, que originalmente fez a denúncia, a China mantém uma rede global de “centros de serviço de polícia” clandestinos, com mais de 50 estações identificadas desde 2022. Esses centros, inicialmente apresentados como associações comunitárias para oferecer suporte administrativo a cidadãos chineses no exterior, têm sido utilizados para monitorar, intimidar e coagir dissidentes e outros alvos a retornarem ao país.
Nos Estados Unidos, a promotoria revelou que Lu Jianwang, também acusado no caso, tinha uma relação de longa data com autoridades chinesas e teria auxiliado no rastreamento de cidadãos chineses refugiados. O procurador-geral adjunto Matthew Olsen destacou que essas operações “vão muito além dos limites da conduta aceitável de um Estado-Nação”, com o objetivo claro de exportar repressão.
Além disso, as denúncias incluem o uso de contas falsas em redes sociais para intimidar dissidentes e suprimir a liberdade de expressão. Entre abril de 2021 e julho de 2022, mais de 230 mil chineses teriam sido repatriados por meio desses centros, muitas vezes sob ameaças diretas ou pressão sobre familiares.
No Brasil, há dois desses centros de apoio a cidadãos chineses, em São Paulo e no Rio de Janeiro, embora não haja registros de assédio nesses locais.