Time de assassinos a serviço da Índia agiu nos Estados Unidos, confirma investigação

Ao menos duas importantes figuras da inteligência indiana participaram de uma trama para assassinar um cidadão norte-americano

Em junho de 2023, o líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar foi assassinado no Canadá. No mês seguinte, um episódio semelhante ocorreu nos EUA, mas as autoridades locais conseguiram salvar a vida de Gurpatwant Singh Pannun, igualmente visto como um grande problema pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, devido ao ativismo separatista. Agora, uma investigação do jornal The Washington Post revelou novos detalhes da trama, que envolve altos funcionários do governo indiano e um time de assassinos a serviço de Nova Délhi ativo em solo norte-americano.

Quem primeiro chamou a atenção para o papel do governo Modi na trama foi o premiê canadense Justin Trudeau. Na ocasião, ele convocou seus aliados, inclusive os EUA, para que condenassem publicamente a ação indiana no Canadá, mas foi ignorado. Na sequência, entretanto, o caso registrado em Nova York veio a público e forçou o governo norte-americano a entrar em cena.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em reunião do BRICS (Foto: Kremlin/WikiCommons)

Ao comentar a tentativa de assassinato contra Pannun, que é cidadão norte-americano, o promotor federal dos EUA Damian Williams acusou um funcionário do governo indiano de participação, mas não citou o nome. Identificou apenas um segundo indivíduo, Nikhil Gupta, como tendo participado da trama. Ele foi preso na República Tcheca e enfrenta um processo de extradição.

A investigação conduzida pelo The Washington Post preenche algumas lacunas, revelando por exemplo os nomes de autoridades estatais indianas envolvidas. Entre eles Vikram Yadav, oficial da RAW (Research and Analysis Wing, ou Ala de Pesquisa e Análise, em tradução literal), a agência de inteligência estrangeira da Índia. Ele é o funcionário citado pelo promotor federal e foi responsável por entregar aos assassinos os dados da vítima.

A participação de Yadav na trama foi confirmada à reportagem por autoridades de inteligência dos EUA e da Índia, bem como por agentes aposentados. As mesmas fontes confirmaram que mais oficiais de alta patente da RAW efetivamente atuaram no caso, fato corroborado por uma investigação conduzida pelo FBI, a polícia federal dos EUA, a CIA (Agência Central de Inteligência) e outros governos ocidentais.

Mais um nome citado tanto pelo jornal quanto pela inteligência norte-americana é o de Samant Goel, chefe da RAW, que estaria sofrendo forte pressão do governo Modi para eliminar as ameaças separatistas sikh no exterior. Ele teria dado o “sim’ decisivo para a tentativa de assassinato contra Pannun em Nova York.

Ainda de forma preliminar, as investigações também implicam Ajit Doval, conselheiro de segurança nacional de Modi. Não há provas concretas, mas as agências de espionagem dos EUA acreditam que ele estava ciente da operação conduzida em solo norte-americano.

Quando a trama foi exposta pela primeira vez, funcionários do Departamento de Justiça pressionaram o governo norte-americano para que abrisse um processo criminal contra Yadav e a RAW, o que implicaria Modi e geraria uma crise diplomática. A ação penal, entretanto, omitiu os nomes para preservar os laços com Nova Délhi, cruciais para Washington devido ao antagonismo de ambos em relação à China.

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