Washington cita risco de recrutamento forçado e pede que americanos deixem a Rússia

Embaixada diz que dupla cidadania pode não ser reconhecida, levando cidadãos dos EUA a servir ao exército russo

“Não viaje para a Rússia“. O alerta foi emitido pela embaixada dos EUA em Moscou a seus cidadãos, em comunicado publicado domingo (12) no site oficial da diplomacia norte-americana. O texto destaca o risco de “detenções indevidas” de visitantes e até o recrutamento forçado para servir às forças russas na guerra da Ucrânia, em caso de indivíduos com dupla nacionalidade.

“A Rússia pode se recusar a reconhecer a cidadania americana de cidadãos com dupla nacionalidade, negar seu acesso à assistência consular dos EUA, sujeitá-los à mobilização, impedir sua saída da Rússia e/ou recrutá-los”, alerta a embaixada, lembrando que em setembro de 2022 o Kremlin lançou o programa de recrutamento de cidadãos para reforçar suas tropas no conflito.

Jovens fazem uma “selfie” em frente à Praça vermelha, em Moscou (Foto: Michał Huniewicz/Flickr)

A mobilização parcial iniciada no ano passado foi oficialmente encerrada, mas informações têm surgido nas últimas semanas de que o processo pode ser retomado. Quem primeiro fez tal afirmação, no início de janeiro, foi a inteligência ucraniana. Na ocasião, Kiev afirmou que Moscou planejava adicionar 500 mil conscritos às forças armadas, ainda mais que na primeira onda de convocações, que atingiu 300 mil.

Mais recentemente, o Ministério da Defesa do Reino Unido disse o mesmo. “Autoridades russas provavelmente mantêm aberta a possibilidade de uma nova rodada de convocações inseridas na ‘mobilização parcial’”, disse a inteligência militar em boletim divulgado no Twitter.

No mês passado, o presidente Vladimir Putin negou tais intenções, afirmando inclusive que suas forças sequer contavam à época com todos os 300 mil russos convocados desde setembro. Segundo ele, somente a metade desse contingente já havia sido enviada ao campo de batalhas.

Risco de prisão

O aviso da embaixada dos EUA em Moscou também cita a possibilidade de “aplicação arbitrária da lei local” e o “potencial de assédio e a seleção de cidadãos americanos para detenção por oficiais de segurança do governo russo”. E acrescenta: “Cidadãos americanos que residam ou viajem para a Rússia devem partir imediatamente”.

No caso das prisões classificadas como arbitrárias por Washington, os principais alvos das autoridades russas são indivíduos que realizam protestos populares contra a guerra ou o governo russo. De acordo com o projeto OVD-Info, que monitora a repressão no país, 19.535 pessoas foram presas em protestos contra a guerra e a mobilização parcial desde 24 de fevereiro de 2022, quando as tropas de Moscou invadiram a Ucrânia.

“O direito de reunião pacífica e a liberdade de expressão não são protegidos de forma consistente na Rússia”, afirma a embaixada. “Os cidadãos dos EUA devem evitar todos os protestos políticos ou sociais e não fotografar o pessoal de segurança nesses eventos. As autoridades russas prenderam cidadãos americanos que participaram de manifestações”.

O comunicado ainda relata uma série de problemas enfrentados pelos visitantes, como voos limitados para dentro e fora da Rússia, a capacidade limitada da Embaixada de ajudar cidadãos americanos na Rússia e a possibilidade de terrorismo”. E lembra que cartões de crédito dos EUA não funcionam no país devido às sanções ocidentais resultantes da guerra.

Até o risco de ataques terroristas é levantado: “Grupos terroristas, organizações terroristas transnacionais e locais, e indivíduos inspirados pela ideologia extremista continuam planejando possíveis ataques na Rússia”. 

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