Belgrado critica Moscou por tentar recrutar cidadãos sérvios para lutar na Ucrânia

Wagner Group é acusado de usar as mídias sociais para publicar anúncios de recrutamento de combatentes na língua sérvia

O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, instou a Rússia a interromper o processo de recrutamento de cidadãos sérvios para servir ao Wagner Group na guerra em curso na Ucrânia. Ele abrdoou a questão durante entrevista a uma emissora de TV local e disse que o recrutamento é ilegal, segundo informações da agência Reuters.

“Por que vocês, do Wagner, ligam para alguém da Sérvia quando sabem que isso é contra os nossos regulamentos?”, questionou Vucic na noite de segunda-feira (16), pelo horário local.

De acordo com o presidente, a organização paramilitar privada russa, que tem papel crucial no esforço de guerra do Kremlin, vem usando as mídias sociais russas para publicar anúncios de recrutamento na língua sérvia.

“Nosso país deixa muito claro que a participação de cidadãos sérvios em todos os conflitos em outros países é proibida e que isso acarreta consequências legais”, reforçou o ministro da Defesa da Sérvia, Milos Vucevic, à rede Radio Free Europe (RFE).

Presidente sérvio Aleksandar Vucic (Foto: ΝΕΑ ΔΗΜΟΚΡΑΤΙΑ/Flickr)
Governos alinhados

A presença de combatentes sérvios ao lado das tropas russas não é novidade. Segundo dados de Kiev, cerca de 300 sérvios se alistaram para combater pela Rússia na Ucrânia desde 2014. Também existem na sérvia muitas organizações pró-Kremlin e ultranacionalistas que aprovam a invasão russa.

Em novembro, Damjan Knezevic, que lidera um desses grupos de extrema-direita na Sérvia, foi a Moscou visitar as instalações do Wagner Group. “Muitos dos meus amigos ficarão orgulhosos por eu ter tido a honra de visitar o Wagner Center. Esse centro e essa organização são extremamente populares na Sérvia”, disse ele em vídeo divulgado pela mídia russa.

Também pesa a proximidade entre os dois governos, com Belgrado tendo inclusive se negado a aderir ao pacote de sanções ocidentais impostas a Moscou em função da guerra. Os sérvios dependem fortemente do gás importado da Rússia, sendo que a multinacional sérvia NIS é propriedade da russa Gazprom.

Ainda assim, a legislação sérvia proíbe legalmente que seus cidadãos se alistem para lutar por outras nações, com casos de pessoas condenadas por agir dessa maneira. Mais de 30 vereditos foram expedidos até agora contra sérvios que lutaram pela Rússia na Ucrânia.

A proibição, porém, não tem eficiência absoluta. A agência de notícias estatal russa RIA Novosti exibiu na terça-feira (17) imagens do que seriam dois sérvios que teriam se voluntariado para participar de um treino com armas na região ucraniana de Zaporizhzhya, igualmente anexada por Moscou.

Por que isso importa?

O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin, tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.

A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.

Wagner Group deu as caras pela primeira vez em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.

De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países. Os mercenários são acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de milhares deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022.

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