Washington enviará delegação não oficial à posse do novo presidente de Taiwan

Decisão tende a irritar Beijing, que considera a ilha seu território e não aceita que ela mantenha relações diplomáticas independentes

A posse do novo presidente de Taiwan, Lai Ching-te, contará com a presença de uma delegação não oficial do governo dos EUA. A decisão de enviar representantes foi anunciada pelo presidente Joe Biden na quarta-feira (15), mantendo assim a política de ambiguidade que marca a relação entre Washington e Taipé. As informações são da agência Associated Press (AP).

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como país autônomo estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Lai Ching-te, presidente eleito de Taiwan, em imagem de 2017 (Foto: WikiCommons)

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, Washington é o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre EUA e China a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

Por um lado, o envio de uma delegação à posse é um recado a Beijing que de Washington não abrirá mão da parceira com Taipé, apesar da pressão chinesa. Por outro, a escolha de representantes não oficiais garante uma negação plausível, embora não baste para acalmar o governo chinês.

Segundo um funcionário da Casa Branca que pediu anonimato, a delegação dos EUA que seguirá para Taiwan contará com duas ex-autoridades de governo norte-americanas e um acadêmico, que terão a missão de “representar o povo americano.” Trata-se de um padrão que vem sendo frequentemente adotado por Washington.

A ambiguidade estampada na escolha da delegação norte-americana pode ser notada também no recente exercício militar realizado em parceria entre as Marinhas de EUA e Taiwan. Com a mesma intenção de amansar a China, os aliados optaram por não divulgar oficialmente as manobras, realizadas em segredo em abril no Pacífico Ocidental.

De acordo com a agência Reuters,  os EUA classificaram as manobras como “encontros marítimos não planejados”. O governo chinês tomou conhecimento e contestou o que chamou de “atos errôneos” e “conluio militar” entre taiwaneses e norte-americanos.

Tensão crescente

A proximidade entre os EUA e a ilha tem aumentado gradativamente, o que levou Beijing a endurecer a retórica nos últimos anos. A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi a Taiwan em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para lá em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing.

Em resposta, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes. O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

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