Washington tentou convencer Moscou a não usar tecnologia aeroespacial ‘preocupante’

Aparato tem capacidade de danificar comunicações a partir do espaço, o que garantiria vantagem militar em caso de conflito

O governo norte-americano usou a diplomacia para tentar dissuadir a Rússia de colocar em operação uma tecnologia aeroespacial com capacidade nuclear que pode ter fins militares e foi classificada por Washington como “preocupante“. A revelação foi feita pelo site Político.

A existência da tecnologia era de conhecimento da inteligência dos EUA e foi compartilhada com a cúpula do governo há cerca de duas semanas, mas mantida longe dos ouvidos da opinião pública.

Porém, o deputado republicano Mike Turner revelou a informação na quarta-feira passada (14) e obrigou a Casa Branca a confirmá-la oficialmente. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse que se trata de uma tecnologia antissatélite, sem ir além nos esclarecimentos.

Washington alegou que os próprios satélites russos poderiam ser danificados pela nova tecnologia aeroespacial de Moscou(Foto: needpix.com/Creative Commons)

De acordo com o Politico, o sigilo foi adotado porque Washington abriu diálogos com Moscou, através de altos funcionários de inteligência, para evitar que o aparato fosse testado. E temia que a solução diplomática fracassasse caso a existência da tecnologia fosse revelada publicamente.

Duas fontes ouvidas pela reportagem do Politico, que pediram anonimato devido à sensibilidade da questão, confirmaram as negociações entre EUA e Rússia para impedir os testes. Disseram que um dos argumentos usados pelo governo norte-americano foi o de que o uso do dispositivo poderia danificar também os satélites russos.

A partir do momento em que a existência do sistema foi revelada, as negociações fracassaram. Agora, Washington teme que Moscou avance com os testes e confirme sua capacidade de usar uma arma nuclear no espaço, danificando satélites e comprometendo as comunicações de forma imprevisível já nos testes.

A operação sigilosa realizada pelos EUA em torno da questão durou mais de um ano, baseada em uma fonte que a inteligência mantinha na Rússia. Então, nas últimas semanas cresceu a expectativa de que Moscou colocaria a tecnologia em operação, o que levou Washington a optar pela solução diplomática.

Os EUA chegaram a acionar os governos de Índia e China para que colaborassem com as negociações, sob o argumento de que o sistema russo é uma ameaça global. Para tanto, aproveitou o diálogo aberto entre os países e a Rússia e o fato de serem importantes centros de produção de tecnologia aeroespacial e de lançamentos de satélites.

Capacidade nuclear

Ao abordar o caso, Kirby já havia afirmado que a tecnologia ainda não foi implantada e que não se trata de uma arma capaz de atingir seres humanos. De acordo com a rede CBS News, é na verdade um sistema com capacidade nuclear que pode ser usado para danificar as comunicações a partir do espaço, atingindo satélites e gerando uma vantagem militar a Moscou em caso de conflito.

Kirby também admitiu que o artefato viola o Tratado Internacional do Espaço Exterior, assinado por mais de 130 países, inclusive pela Rússia. Entre outras coisas, o acordo proíbe a implantação de “armas nucleares ou quaisquer outros tipos de armas de destruição em massa” em órbita ou “estações de armas no espaço sideral de qualquer outra forma.”

Autoridades norte-americanas com conhecimento da questão, ouvidas pela CBS News, foram mais diretas e confirmaram que a a tecnologia tem sim capacidade nuclear. Mas concordaram com Kirby que o objetivo não é atingir pessoas, e sim afetar os sistemas de comunicação do inimigo no espaço.

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