Aliança ‘Five Eyes’ acusa a China de recrutar ‘agressivamente’ militares ocidentais

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Sob a liderança dos EUA, a aliança Five Eyes (Cinco Olhos, em tradução literal), que inclui ainda Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido, acusou na quarta-feira (5) o governo da China de recrutar “agressivamente” militares ocidentais, na ativa ou da reserva, para treinar aviadores do Exército de Libertação Popular (ELP).

Alguns casos já vinham sendo investigados por países do grupo, que agora denunciam formalmente uma campanha em larga escala nesse sentido. Um comunicado conjunto das cinco nações relatou a denúncia através do Gabinete da Diretora de Inteligência Nacional, órgão do governo norte-americano.

Segundo o documento, companhias privadas da China e da África do Sul são usadas para intermediar as negociações entre os militares e as Forças Armadas chinesas

“A percepção que o ELP obtém do talento militar ocidental ameaça a segurança dos recrutas visados, dos seus companheiros de serviço e da segurança dos EUA e dos seus aliados”, diz o texto. “Essa ameaça continua a evoluir em resposta aos avisos dos governos ocidentais a seus militares e ao público. Portanto, este aviso busca continuar destacando essa ameaça persistente e adaptável.”

Jatos J-10 da força aérea chinesa, em foto de 2010 (Foto: Wikimedia Commons)

Os primeiros casos foram identificados por governos ocidentais em 2019, mas foi em 2022 que a denúncia ganhou corpo. Na oportunidade, o governo britânico afirmou que Beijing chegava a oferecer US$ 270 mil (R$ 1,42 milhão no câmbio da época) a cada piloto ou ex-piloto ocidental de caças militares em troca de treinamento aos aviadores chineses.

Além dos cinco membros da aliança Five Eyes, o comunicado cita integrantes das Forças Aéreas de Alemanha e França como alvo preferencial. Destaca, entretanto, que militares de nações ocidentais que não integram a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também estão na mira.

“O âmbito e a escala desta ameaça levaram mais de 120 funcionários dos EUA, da Otan e de países parceiros a convocar uma conferência em janeiro de 2024 para combater esta atividade”, afirmam as cinco nações no comunicado.

De acordo com Michael C. Casey, diretor do Centro Nacional de Contrainteligência e Segurança do governo norte-americano, as contramedidas adotadas pelas nações ocidentais “impactaram nestas operações” do governo chinês, mas os “esforços de recrutamento do ELP continuam a evoluir em resposta.”

Na mira da Justiça

No comunicado, a aliança Five Eyes lista os possíveis impactos da prática para as nações ocidentais. Diz, por exemplo, que ela permite ao ELP “avançar suas capacidades aéreas, melhorar o planejamento para operações futuras e combater melhor as estratégias militares ocidentais.”

Ainda segundo o comunicado, o recrutamento “pode aumentar o risco de conflitos futuros ao reduzir nossas capacidades de dissuasão”, enquanto os indivíduos que venham a aceitar a proposta de Beijing “podem enfrentar penalidades civis e criminais.”

Em 2022, a Austrália abriu uma investigação própria para apurar o recrutamento por Beijing de militares da reserva e prendeu um ex-piloto da Marinha dos EUA acusado de envolvimento. Já o Reino Unido passou a debater alterações na legislação para criminalizar a prática, alterando ainda cláusulas e acordos de confidencialidade para impedir que os militares transmitam informações relevantes à China.

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