Após mais de cinco anos, Seul voltará a militarizar a fronteira do país com a Coreia do Norte

A resposta do governo sul-coreano surge após Pyongyang ter enviado centenas de balões cheios de lixo e excrementos além da divisa nacional

A Coreia do Sul anunciou a suspensão de um acordo de redução de tensões militares na Península Coreana firmado em 2018 com a Coreia do Norte, disseram autoridades de defesa na terça-feira (4). A decisão, comunicada pelo Conselho de Segurança Nacional do Sul (NSC, da sigla em inglês), vem após Pyongyang ter enviado centenas de balões cheios de lixo através da fronteira. As informações são da rede Radio Free Asia.

O NSC informou que irá instruir o gabinete a “suspender totalmente o Acordo Militar de 19 de setembro até que a confiança mútua entre as duas Coreias seja restaurada”. No ano passado, Seul já havia suspendido parcialmente o acordo, depois que o Norte colocou um satélite espião em órbita.

Zona Desmilitarizada entre as Coreias (Foto: Province of British Columbia/Flickr)

Com essa decisão, aprovada pelo presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, a Coreia do Sul fica livre para retomar os exercícios militares, incluindo manobras com fogo real, ao longo da fronteira e perto das ilhas da linha de frente. Além disso, permite a volta das transmissões de propaganda por alto-falantes direcionadas ao Norte.

“Toda a responsabilidade por causar esta situação cabe ao regime norte-coreano. E, se o Norte tentar realizar provocações adicionais, os nossos militares retaliarão severamente com base em uma postura firme de defesa combinada entre a Coreia do Sul e os EUA”, disse Cho Chang-rae, vice-ministro da Defesa para a Política, durante coletiva de imprensa.

As tensões aumentaram no último dia 28, quando o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul (JCS, da sigla em inglês) informou que a nação vizinha enviou mais de 200 balões com lixo, incluindo garrafas plásticas, baterias e esterco animal, através da fronteira. Os balões seguiram para o sul madrugada adentro, chegando até a província de Gyeongsang. 

Acredita-se que o envio desses balões seja uma resposta da Coreia do Norte a uma ação semelhante realizada por ativistas sul-coreanos, segundo a agência AFP. No fim de semana anterior, esses ativistas enviaram balões para o Norte com panfletos criticando o regime de Kim Jong-un e cartões de memória com músicas de K-pop, proibidas em território norte-coreano.

No domingo (2), a Coreia do Norte anunciou que iria interromper temporariamente o envio de balões através da fronteira, mas ameaçou retomar essa ação se a Coreia do Sul continuasse enviando panfletos anti-Pyongyang.

Na cúpula de defesa do Diálogo Shangri-La em Singapura, o ministro da Defesa sul-coreano, Shin Won-sike, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, concordaram que o lançamento de balões pela Coreia do Norte violaria o Acordo de Armistício da Guerra da Coreia. Shin também criticou a ação norte-coreana de enviar balões com lixo, chamando-a de “comportamento mesquinho e de baixa qualidade para uma nação civilizada”.

O Combatentes por uma Coreia do Norte Livre, um grupo de ativistas sul-coreanos que advogam pela democratização e pela liberdade no país vizinho baseados em Seul, que lançou balões com panfletos anti-Pyongyang no mês passado, declarou na segunda-feira (3) que só consideraria parar de enviar as mensagens se o Norte pedisse desculpas por enviar balões com lixo para o Sul.

Tags: