Chance é cada vez menor de a economia da China superar a dos EUA, diz ex-FMI

Segundo o economista Eswar Prasad, probabilidade de o PIB da China um dia ultrapassar o dos EUA 'está diminuindo'

Quando a economia da China vivia seus melhores dias, junto dela crescia a expectativa global de que pudesse ultrapassar a dos EUA como a mais forte do mundo. Hoje, entretanto, o cenário é outro. O ritmo de crescimento econômico diminuiu no país asiático, e a probabilidade de que seu PIB (produto interno bruto) supere o norte-americano “está diminuindo”. A afirmação foi feita por Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell e ex-funcionário do FMI (Fundo Monetário Internacional) responsável pela China, que concedeu entrevista ao jornal Nikkei.

Prasad resumiu os problemas enfrentados atualmente por Beijing. “A China enfrenta uma variedade de fragilidades, incluindo dados demográficos indesejáveis ​​(baixa taxa de natalidade e população envelhecida), um mercado imobiliário em colapso, a deterioração do sentimento dos investidores internos e externos e a falta de clareza sobre um novo modelo de crescimento.”

Economia norte-americano ganhou respiro na concorrência com a chinesa (Foto: Public Domain Pictures)

Em 2023, o PIB chinês cresceu 5,2% superando a meta de 5% traçada pelo governo. Para o economista, entretanto, este padrão tende a não se sustentar, o que determina a manutenção da economia norte-americana como a maior do mundo.

Embora a economia tenha se recuperado em relação à pandemia, os números indicam o crescimento mais fraco desde 1990, excluindo os anos de bloqueios impostos pelo governo devido à Covid-19. Após o levantamento das restrições, Beijing estabeleceu uma meta de crescimento de “cerca de 5%” para 2023. No entanto, os indicadores mostram uma recuperação irregular no país.

“Mesmo uma taxa de crescimento de 4% a 5% será difícil de sustentar nos próximos anos”, analisou Prasad. “A probabilidade de confirmação da previsão de que o PIB da China um dia ultrapassará o dos EUA está diminuindo”, acrescentou.

Levando em consideração as manifestações públicas de Beijing sobre a questão, continuar no segundo posto não parece um incômodo. Em janeiro de 2022, o então vice-ministro das Relações Exteriores Le Yucheng afirmou que a China só tem como objetivo superar os Estados Unidos no sentido de melhorar a vida das pessoas e contribuir positivamente para o mundo.

“Exceder os EUA em PIB… Não estamos interessados ​​nisso e não é isso que buscamos”, disse ele à época, durante um fórum realizado pelo Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, em Beijing. “Atender ao desejo do povo por uma vida melhor: é isso que o Partido Comunista Chinês (PCC) almeja”.

A disputa pela liderança, segundo Prasad, é o menor dos problemas da China no momento. Segundo ele, o pessimismo generalizado em relação à economia é uma questão mais urgente a ser solucionada. “As medidas do governo chinês para restaurar a confiança do setor privado e impulsionar a economia ainda carecem de um amplo quadro de reformas”, disse ele.

O Banco Mundial também expressa preocupação contínua com indicadores-chave, como o consumo interno e a confiança dos investidores. Em relatório do ano passado, a instituição descreveu a economia chinesa como “frágil”.

Críticas censuradas

Atualmente, é impossível esconder a apreensão também do governo com o atual momento econômico do país. Em dezembro de 2023, o Weibo, plataforma de rede social chinesa semelhante ao X (antigo Twitter), emitiu alertas automáticos aos usuários solicitando que evitassem críticas à economia.

Os avisos, divulgados inicialmente pela Bloomberg, foram enviados a internautas que fizeram comentários sobre o estado da economia chinesa no último ano, marcado pela recuperação pós-pandemia. O Weibo, comparado frequentemente a outras plataformas ocidentais, atua em um ambiente online rigorosamente regulamentado na China. Não ficou claro, porém, se a censura resultou em banimentos ou suspensões de contas.

A mídia estatal, incluindo a agência de Notícias Xinhua, entrou em ação rebateu críticas econômicas com a mensagem de que a “resiliência econômica chinesa desmente visões pessimistas”. Uma hashtag no Weibo, “aqueles que falam mal da economia chinesa estão destinados a ficar desapontados”, teve mais de 140 milhões de visualizações entre 14 e 18 de dezembro.

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