Chefe da OMS contesta medidas da China contra Covid-19 e acaba censurado

Tedros Ghebreyesus reprovou a medida de trancar a população em casa, e as palavras dele foram excluídas das redes sociais

O governo da China censurou nas principais redes sociais do país os recentes comentários de Tedros Ghebreyesus, chefe da OMS (Organização Mundial de Saúde), que contestou a política “Zero Covid” de Beijing. Declarações dadas por ele foram excluídas de ao menos dois canais, o serviço de microblogs Weibo e o aplicativo de mensagens WeChat, segundo informações da rede CNN.

Em entrevista coletiva na terça-feira (10), Ghebreyesus reprovou a radical política chinesa de trancar a população em casa, uma iniciativa que começou em Xangai, durou seis semanas e já se repete em outras cidades do país. O problema da medida é que ela tem se tornado cada vez mais frequente em meio à rápida disseminação da variante Ômicron.

“Quando falamos sobre a estratégia ‘Zero Covid’, não achamos que seja sustentável, considerando o comportamento do vírus agora e o que prevemos no futuro”, disse o chefe da OMS. “Discutimos esta questão com especialistas chineses e indicamos que a abordagem não será sustentável. Acho que uma mudança será muito importante”.

Medidas de combate à Covid-19 em Xangai, na China (Foto: Xiangkun ZHU/Unsplash)

No Weibo, versão chinesa do norte-americano Twitter, um post no perfil da ONU (Organização das Nações Unidas) que inicialmente continha as palavras do chefe da OMS foi excluído. Sem explicar melhor o caso, a rede social alegou apenas que a publicação foi tirada do ar “devido à configuração de privacidade do autor”.

Além do post, a rede de microblogs exclui também uma hashtag com o nome do chefe da OMS, bem como fotos dele. Entretanto, posts que citam o nome dele em outras circunstâncias continuam visíveis. O aplicativo de mensagens WeChat, por sua vez, foi mais claro ao informar que o conteúdo foi vetado “devido a uma violação de leis e regulamentos relevantes“.

Enquanto isso, o governo chinês defende as medidas de contenção e diz que um eventual afrouxamento das medidas “inevitavelmente levará a infecções em grande escala, um grande número de doenças graves e mortes”.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, comentou o caso na quarta-feira (10) e foi duro ao se referir à fala de Ghebreyesus. “Esperamos que as pessoas relevantes possam ver a política de prevenção e controle da epidemia da China de maneira objetiva e racional, aprender mais sobre os fatos e evitar fazer comentários irresponsáveis”.

Por que isso importa?

Em abril, a ONG Human Rights Watch (HRW) apara os danos que o confinamento imposto por Beijing vinha causando a seus cidadãos, particularmente em Xangai. “As autoridades de Xangai impuseram medidas draconianas de bloqueio desde março de 2022, que impediram significativamente o acesso das pessoas a cuidados de saúde, alimentos e outras necessidades vitais”, disse a entidade na ocasião.

No caso específico de Xangai, há relatos de pessoas que morreram porque não foram autorizadas a sair de casa sequer para realizar tratamento médico de doenças crônicas que enfrentavam. E de crianças que foram separadas de seus pais porque um ou mais integrantes da família testaram positivo para Covid-19. Muitos cidadãos teriam ficado sem comida em casa, devido à longa duração do bloqueio, que os pegou desprevenidos.

Segundo a HRW, uma enfermeira “morreu de asma depois de ser afastada do hospital em que trabalhava porque a sala de emergência estava fechada para desinfecção e nenhuma outra instalação havia sido disponibilizada”. Já uma mulher morreu “depois de não poder fazer hemodiálise porque foi impedida de sair de seu complexo residencial”. E um homem de 77 anos “com doença renal morreu depois que “o hospital se recusou a fazer diálise imediatamente devido à sua infecção por Covid”.

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