Sob confinamento há várias semanas após um surto de coronavírus, moradores de Xangai, na China, têm realizado protestos nas mídias sociais contra as rígidas políticas de “Covid Zero” do governo. Nesta segunda-feira (18), algo curioso foi observado no trabalho dos censores online que reprimem os atos na internet: uma hashtag contendo a letra do hino nacional chinês foi banida. As informações são do jornal Taiwan News.
A jornalista londrina de origem chinesa Mengyu Dong chamou a atenção para a situação em sua conta no Twitter. “Aqui está uma frase que eu nunca pensei que diria: a primeira linha do hino nacional da China é censurada no Weibo (plataforma de mídia social chinesa similar ao Twitter)”, tuitou ela na segunda.
Mengyu compartilhou uma captura de tela que mostra um resultado de pesquisa do Weibo com a hashtag “Levantem-se! Aqueles que se recusam a ser escravos”, verso que abre a ‘Marcha dos Voluntários‘, hino da República Popular da China. Ao tentar publicar, uma mensagem na tela exibiu o aviso: “De acordo com as leis e políticas relevantes, a página do tópico não foi exibida”.
Here’s a sentence I never thought I’d say: the first line of China’s national anthem is censored on Weibo.
— Mengyu Dong (@dong_mengyu) April 17, 2022
Hashtag “起来不愿做奴隶的人们” (Stand up! Those who refuse to be slaves) has been banned after people used it to vent frustration about prolonged lockdowns. pic.twitter.com/OxVRXvtaqY
Ela observou que a letra da composição patriótica foi banida depois que as pessoas a usaram para desabafar sobre a frustração com o lockdown prolongado. No entanto, quando o verso é inserido em palavras-chave e sem a hashtag na ferramenta de busca, o Weibo traz como resultados postagens que elogiam o patriotismo.
Os internautas, irritados com o cerceamento nas redes, discutiram a questão de forma irônica: “Qual é a primeira frase do hino nacional, mesmo?”. Muitos continuaram com as manifestações e até criaram uma forma de driblar a censura fazendo citações indiretas, como: “A primeira linha do hino nacional!”.
Um usuário da plataforma identificado como Spicy French Fries “hitou” um comentário, que foi amplamente compartilhado por jornalistas e figuras ocidentais, que descrevem o fenômeno como “irônico” e “irreal”: “Canto a primeira linha do hino nacional há mais de 20 anos, mas agora não entendo enquanto canto”.
Lista de vítimas é excluída
Censores ligados ao Partido Comunista Chinês (PCC) também excluíram da internet uma lista de pessoas que morreram em consequência do confinamento em Xangai, informou a rede Radio Free Asia. A URL (endereço de rede) foi bloqueada depois que usuários da Internet salvaram a lista em um site baseado em blockchain (base de dados à prova de violação).
“Eles não morreram de Covid-19, mas por causa disso”, disse uma frase de introdução à lista na plataforma de colaboração Airtable, que usa a tecnologia blockchain. “Eles não devem ser ignorados, nem esquecidos”.
O site mostrou “números incompletos” de mais de 152 pessoas que supostamente teriam morrido por conta de políticas de Covid Zero do PCC e dos bloqueios sanitários rigorosos que se arrastam em Xangai há semanas.
Entre as principais causas, vários suicídios foram registrados na lista, boa parte de pessoas que saltaram de prédios altos. Há também registro de ataques de asma, excesso de trabalho e hemorragia cerebral.
As autoridades de Xangai registraram nesta segunda-feira (18) as primeiras mortes por coronavírus do mais recente surto na cidade, que está sob confinamento há várias semanas, informou a Agência Brasil. São três as pessoas que morreram.
Todos os três infectados que morreram eram idosos (um com 89 e dois com 91 anos), tinham doenças como diabetes e hipertensão e não estavam vacinados contra a Covid-19, disse Wu Ganiu, da Comissão de Saúde da cidade.