China fará exercícios militares com bloqueio aéreo e marítimo ao redor de Taiwan

Manobras coordenadas por Beijing irão bloquear o espaço aéreo e as águas de Taiwan até o próximo domingo

A visita a Taiwan de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, mexeu com os brios de Beijing. Tanto que o exército da China promete iniciar na quinta-feira (4) um de seus maiores exercícios no entorno da ilha, isolando o espaço aéreo e águas territoriais, segundo informações do jornal indiano The Hindu.

Os exercícios ao redor do território semiautônomo devem começar ao meio-dia (horário local). Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, estão previstos tiros reais e testes de mísseis em em seis áreas diferentes ao redor da ilha, dentro do que Taiwan considera como suas águas territoriais.

Modernos caças J-20 sobrevoaram a ilha na terça-feira à noite (Foto: Colin Cooke Photo/Flickr)

Para analistas chineses, o treinamento, que irá se estender até o domingo (7), servirá como um “bloqueio” eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Inclusive um aviso oficial já foi dado.

“Por razões de segurança, é proibida a entrada de embarcações e aeronaves no espaço marítimo e aéreo mencionado acima”, disse o comunicado.

Nesta quarta-feira (3), o Aeroporto Internacional de Taoyuan, em Taiwan, comunicou o cancelamento de 51 voos internacionais somente para quinta-feira (4), quando os exercícios terão início. No mesmo dia, o governo da ilha declarou que a movimentação viola as regras da ONU (Organização das Nações Unidas) quanto à invasão de espaço territorial, vez que resultará em bloqueio aéreo e marítimo.

Antes disso, na terça-feira (2), a China mandou 30 aviões de guerra sobrevoarem o Estreito de Taiwan, no mesmo momento em que a aeronave dos Estados Unidos transportando Pelosi e sua equipe estavam prestes a pousar.

“Provocação”

A política, a primeira representante da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, foi embora nesta quarta. “O mundo está dividido entre democracia e autocracia”, disse ela durante a passagem, acrescentando que os EUA “não abandonarão o compromisso com Taiwan” e que sente “orgulho da amizade duradoura”.

Após sua saída, Beijing ameaçou “sérias consequências” como retaliação a sua visita, incluindo proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. E não escondeu a ira:

“A natureza de sua visita não é sobre democracia”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying. “É uma questão sobre a soberania e integridade territorial chinesa. O que ela fez não é defender a democracia, é uma provocação e violação da soberania e integridade territorial da China”.

As modestas retaliações econômicas anunciadas representam uma pequena parte do crescente comércio bilateral China-Taiwan, de US$ 328 bilhões, que aumentou mais de 25% no ano passado.

Colaboração militar

Embora os EUA não reconheçam oficialmente Taiwan como nação independente, o governo é obrigado por lei a oferecer a Taipé meios para se defender de um eventual ataque. E essa ameaça é cada vez maior, com frequentes e ameaçadoras incursões aéreas no espaço aéreo taiwanês, uma resposta de Beijing às reivindicações de soberania da ilha.

Como parte dessa parceria militar, o Pentágono anunciou no último dia 15 um pacote de US$ 108 milhões em assistência militar. Estariam inseridos no acordo, que atende a uma reivindicação da ilha, peças sobressalentes e de reparo para tanques e veículos de combate, além de apoio técnico e logístico fornecido por Washington e empresas privadas contratadas, segundo a Reuters.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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