China obriga jornalistas a fazer exame para demonstrar lealdade ao Partido Comunista

Quem não for aprovado, irá perder o registro profissional. Medida passa a valer na metade do ano em todo o país

Em breve, os jornalistas chineses serão obrigados a passar por um teste que avaliará sua lealdade deles aos governantes do país e a compreensão dos ensinamentos socialistas defendidos pelo líder do país, Xi Jinping. Profissionais de imprensa que não estiverem alinhados ao Partido Comunista Chinês (PCC) poderão ter anuladas suas credenciais para o exercício da profissão, a exemplo de uma determinação que já ocorre com os advogados. As informações são da rede Radio Free Asia.

Segundo o órgão de vigilância da mídia chinesa, a National Press and Publication Administration (NPPA, da sigla em inglês), que emitiu a diretriz no dia 30 de dezembro, a medida passa a valer no dia 1º de julho. A partir dessa data, qualquer pessoa envolvida em trabalho de coleta e edição de notícias em veículos de toda a China será obrigada a prestar o exame para obter um “certificado de jornalista”.

“Os candidatos devem apoiar a liderança do Partido Comunista da China, estudar, divulgar e implementar conscientemente as ideias de Xi Jinping sobre a nova era do socialismo com características chinesas, implementar resolutamente a teoria, linha, princípios e políticas do partido e aderir à direção política correta e à orientação da opinião pública”, afirma a diretriz.

Xi Jinping: lealdade dos jornalistas ao PCC será testada (Foto: Loey Felipe/UN Photo)

Os exames serão obrigatórios para aspirantes a jornalistas e já atuantes no setor. Estes últimos, se reprovados, terão registros profissionais revogados. O conteúdo da prova será definido a partir de um banco de perguntas e respostas elaborado pelo governo. A aplicação dos testes em todo o país ficará a cargo do Ministério dos Recursos Humanos.

Jornalistas tidos como subversivos pelo governo, com ficha suja ou mancha no currículo terão dificuldade de exercer a profissão. Isso porque, de acordo com a diretriz da NPPA, pessoas com histórico de “práticas prejudiciais de coleta e edição de notícias” terão a candidatura rejeitada. O mesmo irá valer para qualquer pessoa que tenha sido demitida de um cargo público ou tenha recebido uma condenação criminal.

De acordo com Hua Po, um comentarista de assuntos atuais de Beijing, as credenciais de imprensa terão validade de cinco anos, o que significa que os jornalistas provavelmente precisarão refazer o exame peridodicamente.

“É uma forma de reforçar o controle”, disse Hua. “Temo que eles queiram fortalecer o domínio da ideologia por parte dos jornalistas”.

Jornalistas sob as ordens do partido

A repressão aos profissionais de mídia chineses teve início em 2014, a partir de uma exigência para que os jornalistas estudassem o marxismo. Em 2016, o presidente Xi Jinping fez visitas a veículos da imprensa estatal de todo o país, quando alertou que a imprensa oficial era parte do PCC e era dever dela salvaguardar sua autoridade.

Um jornalista veterano, que identificou-se pelo apelido de Xiao Qiong para evitar problemas, deu uma síntese dos objetivos do governos chinês: “A mídia jornalística deve funcionar como porta-voz do partido. Essa é a essência”.

A redução de jornalistas no front também é parte do plano, na visão de um ex-jornalista chinês que trabalhou em um jornal estatal. “Se houver menos repórteres, será mais difícil para o público descobrir as coisas”, disse ele, que optou por se identificar pelo pseudônimo Chen.

A China é considerada um dos países menos livres para a atuação de jornalistas, classificada em 175º lugar entre 180 no índice de liberdade de imprensa divulgado em maio do ano passado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.

No ranking, o país está colado em Mianmar (176º), onde o golpe de Estado de fevereiro de 2021 atrasou a liberdade de imprensa em dez anos. Depois surgem Turcomenistão (177º), Irã (178º), Eritreia (179º) e Coreia do Norte (180º).

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