China prepara investimento bilionário e insta o Taleban a adotar políticas ‘moderadas’

Beijing cobra "salvaguarda dos direitos e interesses de mulheres e crianças" e "atitude mais resoluta no combate ao terrorismo"

Na iminência de investir bilhões de dólares no Afeganistão, a China instou o Taleban a adotar “políticas internas e externas moderadas e prudentes”, citando especificamente as medidas restritivas impostas às mulheres. Beijing se manifestou na quarta-feira (10), em meio a uma reunião organizada pelo Paquistão envolvendo as três nações. As informações são da agência Associated Press (AP).

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, disse que seu governo espera que o Taleban “tome passos sólidos na direção certa, faça esforços práticos para ganhar a compreensão e a confiança da comunidade internacional e crie condições favoráveis ​​para o Afeganistão desenvolver ainda mais a boa vizinhança com seus vizinhos e integrar-se à comunidade internacional.”

Ele foi mais específico na sequência, ao dizer que a China espera que o “lado afegão faça mais progresso na implementação de políticas internas e externas moderadas e prudentes e na salvaguarda dos direitos e interesses de mulheres e crianças”.

Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang (dir.), se reuniu com o ministro interino das Relações Exteriores do Taleban, Amir Khan Muttaqi, em Islamabad, Paquistão (Foto: fmprc.gov.cn)

A manifestação do governo chinês ocorre após o anúncio de que o Afeganistão será inserido na Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping em 2013 para financiar obras de infraestrutura no exterior.

Em comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores chinês disse que o primeiro projeto deve envolver o Corredor Econômico China-Paquistão, uma rede de rodovias, ferrovias e portos orçada em cerca de US$ 60 bilhões que seria estendida até o território afegão.

Segundo a pasta, trata-se de uma iniciativa que “aumentaria a conectividade regional, bem como garantiria elevação econômica e prosperidade para os povos desta região”. 

Diante desse cenário, por trás do véu humanitário da manifestação parecem se esconder os interesses econômicos da China. Tanto que, no mesmo discurso, Wang cobrou das lideranças talibãs “um atitude mais resoluta no combate ao terrorismo para produzir resultados mais visíveis”.

Uma questão que preocupa Beijing é a possibilidade de o Afeganistão abrigar separatistas que se opõem ao controle chinês em sua região noroeste de Xinjiang, que abriga sobretudo minorias étnico-religiosas muçulmanas vítimas de abusos por parte do governo da China. Um desses grupos extremistas, ativo no território afegão, se autodenomina Movimento Islâmico do Turquistão Oriental (ETIM, na sigla em inglês).

Cidadãos chineses também estiveram em perigo ao menos duas vezes em ações atribuídas ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), a filial afegã do grupo extremista originário da Síria e do Iraque. Em janeiro, um ataque ocorreu perto da embaixada chinesa em Cabul; em dezembro de 2022, um hotel frequentado sobretudo por chineses foi alvo.

A preocupação com as falhas no combate ao terrorismo por parte do Taleban também é do Paquistão, pois Islamabad suspeita que o território afegão abrigue membros do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, que realiza atualmente uma violenta campanha contra as forças de segurança paquistanesas.

Temendo que eventuais projetos de infraestrutura no Afeganistão tornem-se alvo do TTP ou do ETIM, as três nações presentes ao encontro destacaram a necessidade de impedir que qualquer indivíduo ou organização “use seus territórios para prejudicar e ameaçar a segurança e os interesses regionais ou conduzir ações e atividades terroristas.”

Apesar da aproximação, Beijing ainda não reconhece o Taleban como governo de direito do Afeganistão. Tanto que em seus canais oficiais classificou os radicais como “governo interino afegão”.

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