O presidente de Palau acusou a China de “usar o turismo como uma ferramenta de pressão” em uma tentativa de fazer com que seu país insular no Pacífico corte os laços diplomáticos com Taiwan. As informações são da agência Associated Press (AP).
Na quinta-feira (15), em entrevista à AP, o líder palauano, Surangel Whipps, revelou que, em 2020, durante sua campanha para o cargo atual, o embaixador chinês em um país vizinho ofereceu trazer um milhão de visitantes para sua pequena nação de 20 mil habitantes, dependente do turismo, se ele cedesse às exigências de Beijing.
Whipps rejeitou a oferta, dizendo: “Não precisamos de um milhão de turistas. O valor não está apenas no dinheiro que ganhamos”.

Nos últimos anos, Ilhas Salomão, Kiribati e Nauru transferiram seu reconhecimento diplomático de Taiwan para a China. Nesse contexto, Whipps, declarou que a China vem exercendo intensa pressão sobre seu pequeno arquipélago para que siga a mesma trajetória.
Palau está entre os 12 países que reconhecem formalmente Taiwan, que a China considera parte de seu território.
Whipps revelou que a China declarou abertamente que o relacionamento de Palau com Taiwan “é ilegal e que o país não deveria reconhecer Taiwan,” disse ele a repórteres na quarta-feira (14).
Durante a visita oficial do ministro das Relações Exteriores da Nova Zelândia, Winston Peters, Whipps afirmou que a China havia prometido a Palau que “o céu é o limite” e que poderia fornecer tudo o que o país precisasse.
“Precisamos de desenvolvimento econômico, mas, ao mesmo tempo, temos valores, temos parcerias e valorizamos o relacionamento que temos com Taiwan”, acrescentou Whipps. “Estamos dispostos a ser amigos da China, mas não às custas de nosso relacionamento com Taiwan”.
Ele seguiu acusando a China de “converter o turismo em uma ferramenta de pressão” e de tentar influenciar o número de visitantes.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o turismo representa cerca de metade do PIB de Palau.
Além disso, Palau foi barrado de participar de uma reunião da Associação de Agentes de Viagens da Ásia-Pacífico em Macau, território chinês, antes da posse do presidente taiwanês Lai Ching-te em maio. “Essa é a realidade que enfrentamos”, disse Whipps.
“Recentemente, surgiram relatos na China de que Palau é um local perigoso e que não deve ser visitado”, disse o líder.
O presidente se referia a outra aparente ação de sabotagem de Beijing. Em junho, a mídia estatal chinesa e um canal oficial do WeChat alertaram os turistas sobre um aumento nos problemas de segurança para visitantes chineses em Palau, aconselhando “cautela”.
Whipps desmentiu essas alegações, mas notou que o número de turistas chineses caiu pela metade em 2024, reduzindo sua participação para 30% dos visitantes. Anteriormente, 70% dos turistas de Palau eram chineses, mas desde 2017, quando a China começou a restringir informalmente suas viagens ao país, Palau tem tentado diversificar suas fontes de turistas.
Não é a primeira vez que Whipps acusa Beijing de se intrometer nos assuntos de Palau. Em junho, ele já havia responsabilizado a China após um grande ataque cibernético contra a ilha. Whipps afirmou que a investigação revelou que o ransomware, embora desenvolvido na Rússia e enviado da Malásia, “parece ter conexões com a China”.