As mortes de dois cidadãos chineses em uma ação terrorista no Paquistão, no início desta semana, levaram o governo chinês a priorizar o combate ao terrorismo. O Ministério da Segurança de Estado promete aumentar o alerta de perigo e ampliar a cooperação de inteligência, segundo o jornal South China Morning Post.
Na quarta-feira (9), o governo chinês publicou um comunicado dizendo que o combate ao extremismo é uma “responsabilidade compartilhada da comunidade internacional e uma prioridade urgente”. O texto diz, ainda, que ações como a desta semana visam minar as relações entre os dois países e que Beijing vai cooperar com os esforços antiterrorismo de Islamabad para manter os vizinhos alinhados.
China e Paquistão são parceiros em um megaprojeto de infraestrutura orçado em US$ 60 bilhões. O Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) é uma iniciativa chinesa para ligar a cidade portuária de Gwadar, na região paquistanesa do Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras rodoviárias e ferroviárias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento de Islamabad.

O ataque tem relação com o CECP e foi reivindicado pelo Exército de Libertação Balúchi (ELB), um grupo radical que luta pela independência do Baluchistão e foi inserido em 2019 pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. De acordo com as forças de segurança locais, outras sete pessoas se feriram na ação, seis cidadãos paquistaneses e um chinês.
Separatistas como o ELB lutam por maior autonomia política do Baluchistão em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o CPEC, anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.
Os balúchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.
A situação torna os chineses um alvo preferencial dos radicais. “Em regiões concentradas com interesses estrangeiros, serão feitos esforços para aprimorar os sistemas de alerta precoce para riscos de ataques terroristas, fortalecer a resposta de emergência a incidentes repentinos e proteger efetivamente a segurança de cidadãos, organizações e projetos estrangeiros”, disse o Ministério.
Após a explosão, o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, “condenou veementemente” o incidente e ofereceu “sinceras condolências à liderança chinesa e ao povo da China”. Ele acrescentou: “O Paquistão está comprometido em proteger nossos amigos chineses. Não deixaremos pedra sobre pedra para garantir sua segurança e bem-estar.”
Ataques frequentes
Em março deste ano, outro atentado realizado por separatistas balúchis tirou a vida de cinco engenheiros chineses e de um paquistanês na província de Khyber Pakhtunkhwa, no norte do Paquistão. Um carro-bomba conduzido por um terrorista suicida foi usado naquele ataque.
O ataque de março havia levado cerca de 1,2 mil cidadãos chineses a deixarem o Paquistão por medo da violência dos separatistas. Após aquele episódio, Beijing colocou pressão sobre o governo paquistanês para fornecer segurança às pessoas que atuam em projetos do CPEC, mas isso não reduziu as ações dos grupos radicais como ELB.