Conselho da Meta solicita que premiê cambojano seja bloqueado no Facebook

A conta de Hun Sen no Facebook, que possui 14 milhões de seguidores, exibiu um vídeo em que o primeiro-ministro ameaçou agredir seus oponentes

O Conselho de Supervisão da Meta Platforms solicitou nesta quinta-feira (29) a suspensão do primeiro-ministro cambojano Hun Sen por seis meses devido a um vídeo postado em sua página no Facebook que infringiu as regras da empresa contra ameaças violentas. As informações são da agência Reuters.

O conselho, que recebe financiamento da Meta, mas atua com independência, afirmou que houve um equívoco por parte da empresa ao permitir a publicação do vídeo e ordenou sua remoção imediata da plataforma.

“Dada a gravidade da violação, o histórico de Hun Sen de cometer violações de direitos humanos e intimidar oponentes políticos, bem como seu uso estratégico da mídia social para amplificar tais ameaças, o Conselho pede à Meta que suspenda imediatamente a página de Hun Sen no Facebook e a conta no Instagram por seis meses”, disse o conselho em comunicado. 

O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, durante cúpula Rússia-Asean em 2016 (Foto: WikiCommons)

O Conselho explicou que permitir o conteúdo na plataforma resultou em danos que superam o valor do interesse público da postagem, especialmente devido ao alcance do primeiro-ministro nas mídias sociais. Eles afirmaram que a decisão original de moderação contribuiu para amplificar as ameaças e intimidação.

A empresa-mãe do Facebook, em comunicado escrito, concordou em retirar o vídeo, mas informou que analisará a recomendação de suspensão de Hun Sen antes de tomar uma decisão.

A suspensão da página do primeiro-ministro no Facebook ocorreria pouco antes da eleição no Camboja, com a previsão dos críticos do regime de que a votação será fraudulenta.

Essa decisão faz parte de uma série de repreensões do Conselho de Supervisão da Meta, que ilustra como a empresa lida com líderes políticos que violam as regras e incitam a violência eleitoral. A atenção aos esforços de integridade eleitoral da empresa tem aumentado, especialmente em relação às próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Segundo Phil Robertson, diretor da ONG Human Rights Watch, a revisão do Conselho pode estabelecer um precedente para a moderação de líderes autoritários na Ásia. Ele considerou o pedido de remoção de Hun Sen como “muito atrasado”. Por um lado, o Facebook baniu o ex-presidente dos EUA Donald Trump da plataforma, embora posteriormente tenha restaurado a conta. Por outro, cedeu às demandas estatais por censura em países como o Vietnã.

Até o momento, o governo cambojano não reagiu à decisão do conselho, mas afirmou anteriormente que as observações eram uma confirmação do processo legal no país.

Há poucos dias, o conselho levantou preocupação sobre a eficácia dos esforços eleitorais da Meta, devido à forma como a empresa lida com apelos à violência após as eleições brasileiras de 2022.

Página excluída

Na quinta-feira à noite (horário local de Camboja), Hun Sen excluiu sua conta do Facebook após o conselho de supervisão da Meta decidir que ele enfrentaria uma proibição de seis meses devido a uma postagem de vídeo ameaçadora contra seus oponentes, informou o jornal The Nikkei.

Hun Sen anunciou no Telegram que agora preferia usar essa plataforma para se comunicar, considerando-a mais eficaz. Ele solicitou a exclusão imediata de sua conta do Facebook e informará à empresa para remover seu nome. Atualmente, ele tem 85 mil seguidores no Telegram, em comparação com os mais de 14 milhões de seguidores que tinha no Facebook.

Em janeiro, Hun Sen, um usuário ativo do Facebook, fez um vídeo ao vivo em que direcionou críticas aos oponentes que acusaram sua sigla, o Partido do Povo Cambojano (PPC), de fraude eleitoral nas eleições locais de 2022.

Durante o discurso de 41 minutos, Hun Sen mencionou a possibilidade de ação legal contra seus críticos ou a convocação dos seguidores do PPC para uma manifestação violenta contra eles.

O discurso, visualizado aproximadamente 600 mil vezes, foi denunciado à Meta, empresa proprietária do Facebook, por incitar a violência. Os moderadores da plataforma consideraram que os comentários violavam os padrões da comunidade, mas optaram por mantê-lo online devido ao seu “valor noticioso”.

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