De expectativas de trabalho na Rússia à condição de combatentes na Ucrânia

Famílias de indianos forçados a lutar pelo exército russo estão considerando viajar até a zona de conflito para tentar resgatá-los

Na Índia, famílias têm protagonizado histórias dolorosas de parentes que partiram em busca de trabalho no exterior e acabaram envolvidos em uma guerra que não lhes diz respeito. São relatos de homens que foram atraídos para a Rússia com promessas de empregos e um futuro melhor e acabaram sendo pressionados a engrossar as fileiras de Vladimir Putin no conflito contra a Ucrânia. As informações são da rede NBC.

Sentindo-se abandonadas pelo governo indiano, algumas dessas famílias estão desesperadas. Sem apoio das autoridades, elas não veem alternativa senão viajar para regiões ucranianas controladas por Moscou na esperança de trazer seus familiares de volta para casa.

Há meses, famílias como a de Raja Begum, uma mulher de 65 anos, esperaram ansiosamente por ações do governo indiano para que coordeno o retorno desses trabalhadores que estão presos no exterior. Sentada no quintal de sua casa de dois andares em Poshwan, uma vila na Caxemira sob administração indiana, ela compartilhou com a reportagem sua frustração diante da falta de progresso até o momento.

Mapa-múndi em meio a destroços da guerra na Ucrânia (Foto: WikiCommons)

O filho de Begum, Azad Yousuf Kumar, de 31 anos, partiu da Índia para os Emirados Árabes Unidos em dezembro. Ele foi atraído por uma oferta de trabalho doméstico em Dubai, promovida por um consultor chamado Faisal Khan, que divulgava essas oportunidades em seu canal no YouTube, Baba Vlogs. Kumar pagou uma taxa de 300 mil rúpias, cerca de R$ 18,7 mil, pelo serviço.

No entanto, logo após sua chegada, Kumar descobriu que os empregos prometidos nos Emirados Árabes Unidos não estavam disponíveis. Sua mãe, Begum, relatou que ele foi convencido por Khan a considerar uma oportunidade na Rússia, onde supostamente poderia trabalhar em uma cozinha.

Contrariando as expectativas, Kumar foi direcionado para um centro de treinamento militar em Moscou assim que chegou. Lá, passou 15 dias em treinamento com armas, juntamente com outros homens da Índia e do Nepal, antes de ser enviado para o combate contra as forças ucranianas na linha de frente. Begum afirmou que ele foi coagido a assinar um contrato em um idioma que não entendia.

“Durante o treinamento, meu filho se machucou”, compartilhou Begum. “Ele não teve tempo suficiente para se recuperar e, em vez disso, foi enviado imediatamente para perto da fronteira, onde o conflito estava acontecendo”.

Houve também casos de recrutas atraídos por, além de promessas de altos salários, cidadania russa. Famílias das vítimas denunciam que agentes cobravam 300 mil rúpias (cerca de R$ 17,9 mil), prometendo um passaporte russo após alguns meses de serviço militar. Relatos indicam que os recrutadores visam pessoas da Índia, Emirados Árabes Unidos, Nepal e Sri Lanka, cobrando taxas que chegam a 1,2 milhão de rúpias.

Tráfico humano

O Bureau Central de Investigação da Índia revelou recentemente que pelo menos 35 cidadãos indianos foram recrutados para empregos na Rússia, apenas para serem treinados à força e enviados para lutar na Ucrânia ao lado do exército russo. Alguns foram gravemente feridos durante os combates.

A agência prendeu 35 suspeitos de envolvimento no tráfico humano e apreendeu dinheiro e documentos incriminatórios em operações em todo o país. O Ministério das Relações Exteriores da Índia afirmou que está empenhado em trazer esses homens de volta para casa o mais rápido possível.

Em 2022, quando a guerra teve início, houve relatos de indianos se voluntariando para o exército ucraniano. No entanto, é a primeira vez que a presença de indianos do lado russo em funções de combate é relatada.

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