Documentos revelam novo posto chinês em construção em Antígua e Barbuda

A China está expandindo sua presença no Hemisfério Ocidental, uma área de importância estratégica para os EUA, devido às suas grandes rotas marítimas

Com base em documentos governamentais, registros empresariais e entrevistas com líderes locais, uma recente investigação da Newsweek revelou o crescente envolvimento da China com Antígua e Barbuda, distante apenas 350 quilômetros da costa das Ilhas Virgens dos EUA, tanto através da diplomacia quanto de empresas estatais.

O estreitamento de laços culminou na assinatura de um acordo em janeiro para estabelecer uma nova “Zona Econômica Especial” chinesa na ilha. Além disso, foram firmados acordos que incentivariam as autoridades de Antígua a estudarem os pensamentos do líder Xi Jinping sobre governança.

Segundo documentos analisados pela revista, a ilha terá formalidades alfandegárias e de imigração próprias, um porto de embarque e até mesmo uma companhia aérea dedicada. Além disso, poderá emitir passaportes e estabelecer empresas que oferecem uma ampla gama de serviços, desde logística até criptomoedas, cirurgia facial e “virologia”.

Vista de St. John’s, capital de Antígua e Barbuda (Foto: WikiCommons)

O artigo também menciona preocupações expressas pelo Comando Sul (Southcom, na sigla em inglês) das forças armadas dos EUA, sobre a crescente presença da China em Antígua e na região do Caribe.

Essa presença de Beijing, tanto através de suas empresas estatais quanto das privadas alinhadas com o governo, está marcando uma rápida expansão na nação insular, bem como em outros países da região caribenha. Tal tendência vem consolidando a influência chinesa em uma área estratégica há muito reconhecida como “a terceira fronteira da América”.

Para Washington, a situação representa potencialmente o maior desafio externo nas Américas desde a instalação da União Soviética em Cuba na década de 1960. Diante desse cenário, militares dos EUA estão atentos e preocupados com o que isso pode significar em termos de segurança e influência na região, diz a reportagem.

Um porta-voz do Southcom ilustrou essa preocupação destacando que a China tem histórico de usar sua presença comercial e diplomática para objetivos militares em outras regiões, como Ásia, África e Oriente Médio. O temor é que essa mesma estratégia seja aplicada na região caribenha, com potenciais abusos de acordos comerciais nos portos locais para esses fins.

Por conta de grandes investimentos e construções de infraestrutura financiados por Beijing, críticos afirmam que a China está transformando Antígua e Barbuda, antes vista como parte do “quintal” dos Estados Unidos, em uma espécie de “jardim chinês”.

Ouvido pela Newsweek, o primeiro-ministro Gaston Browne expressou sua gratidão e admiração pela China e pelo presidente Xi Jinping. Em um país com uma população de apenas 97 mil habitantes e uma área territorial de aproximadamente 440 mil quilômetros quadrados, Browne destacou a importância da assistência vinda do gigante asiático em contraposição à falta de ajuda dos países ocidentais.

O político ressaltou a percepção da China como uma nação que busca a verdade e demonstra “empatia pelos pequenos Estados e pelas populações pobres em todo o mundo”. Essa “postura solidária” é vista pelo primeiro-ministro como um contraponto à negligência percebida por parte das nações ocidentais.

Durante uma viagem de uma semana à China em janeiro, Browne fez movimentos significativos para fortalecer os laços entre os dois países. Ele inaugurou a embaixada de Antígua em Beijing, marcando décadas de relações diplomáticas desde 1983. Durante a visita, ministros de ambos os países assinaram nove memorandos de entendimento, cobrindo uma variedade de áreas, desde questões marítimas até o compromisso de funcionários de Antígua em estudar o Pensamento de Xi Jinping sobre Governança.

Browne destacou a impressão que teve da visão global de Xi, que parece fundamentada em uma ideia de “humanidade comum”.

A China se tornou o principal credor de Antígua ao fornecer suporte financeiro substancial. Browne explicou à Newsweek que a China ofereceu empréstimos com taxas de juros de 2% e um período de carência de cinco anos para os reembolsos. Em 2018, Antígua aderiu à Iniciativa Nova Rota da Seda (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI), um ambicioso projeto chinês que visa conectar a China ao mundo exterior por meio de investimentos e projetos de infraestrutura, tornando-se uma das primeiras nações caribenhas a fazer parte dessa rede global de influência.

Interesses

Diplomatas europeus e asiáticos na região levantam suspeitas sobre os verdadeiros interesses da China em Antígua, sugerindo que vão além do aspecto econômico. A recém-inaugurada embaixada chinesa em St. John’s, apelidada pelos locais de “Fortaleza” devido ao seu tamanho impressionante e forte segurança, desperta preocupações de que possa servir como um centro regional de inteligência, semelhante às instalações de longa data em Cuba, que os Estados Unidos afirmam ser usadas por Beijing para atividades de espionagem.

Embora os diplomatas não tenham oferecido detalhes específicos, insinuaram que, dada a atenção dos EUA em relação a Cuba, Antígua pode ser tanto um ponto de expansão quanto um de “recuo” para as atividades chinesas na região.

O Southcom expressou preocupações, destacando o amplo investimento chinês em infraestrutura logística no Caribe. Há temores de que a China possa usar suas empresas estatais e diáspora para conduzir operações de inteligência ou influenciar atividades contra os EUA e seus parceiros na região, potencialmente com objetivos militares.

Essas preocupações são amplificadas pela prática do Partido Comunista Chinês (PCC) de recrutar e subornar funcionários para seus interesses.

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