EUA admitem erros em campanha secreta de propaganda antivacina nas Filipinas

Governo norte-americano trabalhou em segredo na tentativa de desacreditar a empresa chinesa Sinovac no auge da pandemia

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD, da sigla em inglês) admitiu ter conduzido uma operação secreta que visava semear dúvidas entre os filipinos sobre a vacina chinesa Sinovac durante o pico da pandemia de Covid-19.

Um relatório confidencial do Pentágono, obtido pela agência Reuters, detalha que o DOD se envolveu em esforços de comunicação contra a vacina chinesa nas Filipinas e em outros países que dependiam significativamente da China para recursos de saúde pública durante a pandemia.

Na época, autoridades dos Estados Unidos estavam preocupadas que o Partido Comunista Chinês (PCC) estivesse utilizando o coronavírus para firmar acordos geopolíticos e enfraquecer alianças dos EUA através do envio de ajuda.

Vacina Coronavac, produzida por farmacêutica chinesa, em registro de dezembro de 2020 (Foto: Divulgação/Marco Verch)

O relatório do Departamento de Defesa, citado pela mídia, foi encaminhado ao Departamento de Relações Exteriores e ao Departamento de Defesa Nacional das Filipinas em 25 de junho.

Segundo o documento, o Pentágono reconheceu ter “divulgado mensagens ao público filipino que questionavam a segurança e a eficácia da vacina Sinovac” e, ao fazer isso, “cometeu alguns erros em suas comunicações relacionadas à Covid”.

O documento também esclareceu que a campanha contra a vacina Sinovac acabou se mostrando “desalinhada com as prioridades [dos EUA]” e foi encerrada em agosto de 2021.

O secretário de Defesa Lloyd Austin e o secretário de Estado Antony Blinken partiram na sexta-feira (26) em uma viagem à região do Indo-Pacífico. Eles devem visitar as Filipinas, onde se encontrarão com o secretário de Defesa Nacional Gilberto Teodoro e o secretário de Relações Exteriores Enrique Manalo. Antes da viagem, Austin elogiou o “progresso” nas relações entre os EUA e as Filipinas alcançado durante seu mandato.

“Quando comecei como secretário, nossos laços com as Filipinas estavam em um ponto crítico. Estávamos à beira de perder nosso Acordo de Forças Visitantes de décadas”, disse ele aos repórteres na quinta-feira. “Mas, após três anos de intenso engajamento e parceria, estamos em um novo capítulo de nossa aliança.”

As Filipinas foram um dos países mais afetados no Sudeste Asiático durante a pandemia de Covid-19, registrando quase 67 mil mortes até 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Sinovac, uma das maiores fabricantes de vacinas da China, iniciou ensaios clínicos de Fase III em julho de 2020 no Brasil, e expandiu os testes para a Indonésia, Turquia e Filipinas até abril de 2021. Durante esses ensaios, a Sinovac garantiu vários grandes contratos para autorização emergencial na Ásia, África, Europa e América do Sul.

Em novembro de 2023, 72% da população filipina havia recebido a série primária completa da vacina contra a Covid-19, e 22% havia recebido pelo menos uma dose de reforço.

A campanha só foi encerrada após Joe Biden emitir um decreto proibindo iniciativas que questionassem a eficácia de vacinas contra a Covid-19, levando o Pentágono a iniciar uma revisão interna. Entretanto, especialistas citados pela Reuters avaliam que a desinformação difundida por Washington foi suficiente para colocar milhares de vidas em risco.

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