EUA alertam para o risco elevado de atentado contra importante hotel de Islamabad

Além do risco atual, pesa a lembrança de um atentado contra o hotel em 2008 que matou 63 pessoas e deixou mais de 250 feridas

A embaixada dos EUA no Paquistão alertou seus cidadãos para o risco elevado de um atentado terrorista contra o Hotel Marriott, em Islamabad, e pediu a seus cidadãos que fiquem longe do estabelecimento durante as festas de final de ano.

“O governo dos EUA está ciente de informações de que indivíduos desconhecidos possivelmente planejam atacar americanos no Hotel Marriott em Islamabad em algum momento durante as férias. Com efeito imediato, a Embaixada em Islamabad está proibindo todos os funcionários americanos de visitar o Hotel Marriott de Islamabad”, diz comunicado publicado no domingo (25).

O texto lembra ainda que Islamabad está em alerta vermelho por determinação do governo paquistanês, por questões de segurança. Assim, todas as reuniões públicas estão proibidas na cidade. Os cidadãos norte-americanos também foram orientados a evitar viagens não essenciais à cidade.

O aviso foi feito dois dias após um raro ataque extremista que matou um policial e deixou outras dez pessoas feridas na capital paquistanesa. O Taleban do Paquistão, nome popularmente atribuído ao Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), assumiu a autoria do ataque e disse que ele foi uma retaliação pela morte recente de um de seus combatentes em operação das forças de segurança estatais.

O ataque ocorre em meio a uma onda de violência por parte do TTP que teve início após o fim do cessar-fogo estabelecido com o governo em junho. Em novembro, os rebeldes se retiraram do acordo e ordenaram a seus seguidores que passassem a realizar novos ataques contra as forças do governo.

No caso do hotel, pesa a lembrança de um atentado em setembro de 2008 que matou 63 pessoas e deixou mais de 250 feridas.

Uma das suítes do Hotel Marriott em Islamabad (Foto: reprodução/site oficial)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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