Documentos de líder talibã indicam apoio do governo do Paquistão aos extremistas

Cofundador do Taleban, Mulá Abdul Ghani Baradar tem um passaporte e um documento nacional de identificação emitidos pelo governo do Paquistão

Documentos pessoais paquistaneses legítimos são o mais novo indício de que o governo local dá suporte ao Taleban. O mulá Abdul Ghani Baradar, cofundador do grupo extremista que agora comanda o Afeganistão, tem um passaporte e um documento nacional de identificação, ambos do Paquistão, sob o nome falso Muhammad Arif Agha. As informações são do jornal indiano Hindustan Times.

O passaporte, que tem validade vitalícia, e o documento nacional de identificação foram emitidos no mesmo dia, 10 de julho de 2014, com a assinatura do registro geral do Paquistão. O envolvimento do governo paquistanês com o Taleban se daria através do ISI, o serviço de inteligência do país. A suspeita é de que o órgão forneça suporte militar, financeiro e sobretudo de inteligência ao grupo.

Abdul Ghani Baradar, cofundador do Taleban (Foto: reprodução/facebook.com/foreignofficepk)

Um indício anterior de apoio paquistanês ao Taleban ocorreu em 2016, quando o ex-líder do grupo, o mulá Akhtar Mansoor, foi morto num ataque de drone. Um passaporte do Paquistão também foi encontrado com ele quando da recuperação do corpo depois do ataque.

Morte desmentida

Na terça-feira (14), o Taleban negou que Baradar tivesse morrido durante um tiroteio entre membros do grupo. Boatos davam conta de que um racha interno entre talibãs teria levado a um conflito armado entre extremistas, levando à morte do cofundador do grupo.

De acordo com a agência Reuters, Sulail Shaheen, porta-voz do Taleban, disse que Baradar gravou uma mensagem de voz para confirmar que esta vivo. “Ele diz que é mentira e totalmente sem base”, afirmou o porta-voz em sua conta no Twitter.

Por que isso importa?

Depois que o Taleban conquistou Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent. Agora, o país tem reivindicado o papel de principal interlocutor dos talibãs, que por ora vem sendo exercido pelo Qatar.


Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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